Atitude do Pensar

Atitude do Pensar

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Honestidade x "Jeitinho Brasileiro"

Honestidade, corrupção e "jeitinho brasileiro".
Em qual desses pontos nos encontramos enquanto indivíduo e sociedade?
Há pessoas 100% honestas?
Bem, particularmente, acredito que não.
Porém, para destrinchar mais acerca desse assunto, fui convidada à fazer uma refelxão aqui, juntamente de mais 3 colegas blogueiros.
Vambora?
Raramente, quando se fala acerca de corrupção, associa-se o “jeitinho brasileiro” individual ao “jeitinho brasileiro” coletivo. E nisso, percebemos que nossa visão de corrupção está fundamentada nos políticos, e não em nosso cotidiano onde perpassa nossas relações sociais.
No entanto, é sabido que o “jeitinho brasileiro” é reconhecido no âmbito nacional e até internacional, como a forma que os brasileiros têm para resolver seus problemas. Portanto, permeia todo o universo brasileiro, iniciando pelo individual e coletivo até tornar-se em parte nossa identidade nacional.
Enquanto indivíduo, posso afirmar que infelizmente não sou 100% honesta, mesmo apreciando a veracidade dos fatos e até mesmo da identidade pessoal. Inclusive, posso afirmar que em muitos momentos, ocorre de forma involuntária, contudo, me esforço para que não exceda a minha identidade, meus valores.
Como citado acima, esse estigma brasileiro denominado “jeitinho brasileiro” é reproduzido constantemente em nossa sociedade, e ao realizar uma análise mais intrínseca sobre esse fato, percebe-se que tal jeitinho, está alicerçado na falta de honestidade que a sociedade brasileira tem construído historicamente há séculos, por meio de vínculos com o coronelismo, paternalismo, ou simplesmente na troca de simples favores.
Estigma ou não, a reprodução histórica desse fato, pode nos impedir de legitimar direitos nacionais e universais, pode ainda, manter no poder, pessoas desqualificadas, e reproduzir corrupção nas coisas mais frívolas do dia-a-dia.
Iniciando em coisas que pensamos ser pequenas, como a não devolução do troco, a ocupação do lugar reservado para idosos e afins, a fila do banco ou supermercado que passamos na frente, até a compra do voto político, mantemos em constante evolução o que consideramos abominável: a corrupção.
O antropólogo Roberto da Mata afirma que há uma relativização dessa corrupção, pois parte da idéia que aceitamos determinados modelos de transgressões, mas não outros. Nesse sentido, Da Mata entende que, quando localiza-se na esfera individual a corrupção é aceitável, mas quando parte para o coletivo, a massa, é inaceitável.
Mas afinal, o que fazer?
Talvez iniciar uma reconstrução da ética individual e nacional. Entretanto, pode ser que seja necessária não a reconstrução, mas sim, a construção, visto que o “jeitinho brasileiro” nasceu na própria colonização de Portugal no Brasil e, portanto, está arraigada em nossa atmosfera.
Enquanto isso vale a pena uma reflexão individual de como estamos construindo o que mais criticamos enquanto indivíduo político, repensando assim, nossos atos frente às nossas relações sociais, buscando então, uma vida honesta, ou o mínimo corruptível possível.

[obrigada pelo convite, Emi]

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Logo ali

Logo ali, onde encontra-se amigos, inverno, tapioca, chorinho, abraços e alegrias.

[Foto tirada por Raulzito na Feirinha Tom Jobim]

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um lugar para estar

Em abril eu questionei se amar é uma escolha.
Nessa semana, comentei com a Fer, que meu coração é quem manda, e mesmo sendo muito racional para certas coisas, ainda não sou capaz de controlá-lo - e nem quero.

Contudo, há certos momentos em que seria bem mais fácil estar com os príncipes e não com os ogros. Diante disso, mesmo sendo aversa aos príncipes, por estes soarem falsos - e outros motivos que não citarei agora -, a estabilidade e o equilibrio que estes geram pode ser bem vinda (tá, mas quem me conhece sabe que o equilibrio não é tão apreciado por mim, desde que entendi que este é morno e, portanto, fica a ponto de vômito).

Enfim, minhas manias e vícios não permitem que eu seja capaz de amar alguém somente por admirá-lo. Meus valores e identidade, são maiores do que meu desejo de ser par.

No entanto, as vezes, também é muito bom saber que não abro mão do meu eu por nenhum meio metro de expectativas (né, Paulinha?).

Nesse sentido, se amar - nesse caso -, não é uma escolha, resta-me admirar a paisagem e aguardar pelo encontro.

Enquanto isso, curto a viagem, o sol que adentra a janela, as montanhas que alargam minha visão, os campos de girassóis que gera sorriso em meus lábios, o céu azul que nem lembra-me que é inverno. Absorvo o todo, inclusive os ipês dessa estação. Quando necessário, vez ou outra, troco de vagões.

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Comemoração de aniversário durante 4 dias (sim, eu posso fazer isso).

Ontem, amigos das antigas, vozes de rostos distantes e que me acompanham desde muito tempo, declarações de bem querer, saudades, taças e vinhos (obrigada, Devah), nhoque, música.

Sinceramente, minha lembrança de um dia de aniversário como esse, remete-se há uns 5 anos atrás. Após isso, eu já não gostava mais de comemorar. Porém, as coisas mudam, e essa mudança veio lá de longe, ao conhecer uma certa Borboleta.

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Hoje na construção, aprendendo "onde parar e quando descer".

Contudo, ainda no ontem, que trouxe-me balzaque na idade, mas também um lugar para estar, mesmo sendo necessário limpá-lo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Aniversário da menina dos balões

Hoje ela deseja apenas suspiros e afagos.
Abraços demorados e sorrisos largos.
A companhia de amigos e gargalhadas ao fundo.
Uma taça de vinho e uma massa.
Chico e Bethânia.
Paz e milk shake de nuttela.
Música e balões.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

As 4 estações

Há certos instantes em que tenho a sensação de presenciar todas as estações no decorrer de um dia... São dias como hoje, escutando as 4 estações de Legião Urbana...

07:00 da manhã de uma simples segunda-feira, o calendário informa que estamos no inverno. Porém, o ontem cantava acerca das flores e do reinado do sol. Mas o dia de hoje possui cor de saudade, e o frio que corta minha pele traz um rosto ainda desconhecido, uma voz que encontra-se distante e um abraço desejado. Será apenas um mero sonho de inverno?
Não sei, mas há tempos anseio por encontrar refrigério e proteção no poço de água limpa que habita em teu colo. Contudo, é sonho. E nas noites desse inverno durmo embalada ao som que vem lá de fora, que contrasta com essa quimera; maior do que o tamanho do meu peito. Vou dormir, é só o vento lá fora aquietando-me aqui dentro...

12:00 desta segunda-feira, entre mordidas e mastigadas observo o céu, explique-me: Por que ele está tão azul? São nuances de mistérios que alteram meus sentidos, comandando nosso duplo renascer. Discretamente, percebo que o sol bate à janela do teu quarto, revelando flores e sons. Tudo novo. Uma primavera em festa. Sei que ainda tudo é dor, entretanto, este é o tempo de recomeçar, colher flores das sementes que plantamos... Qual foi a semente que você plantou? Arco-íris? Sorvete? Algodão doce? Bolhas de sabão? Não? Ah, sim, balões... Então vamos segui-los até as nuvens, para contemplar o campo de girassóis sonhados nessa estação...

Vejo o sol iniciar sua despedida às 17:00 desta segunda-feira. Volta aqui. Num dia de verão. Não tenha medo, não quero transformar esperança em maldição. Muito menos estupidez em recompensa. Saiba, que estou do lado do bem. Estou do seu lado. Hoje, o sol brilhou e sorriu para nós. Chove lá fora... A melodia que nasce convida-nos a bailar sob as águas de refrigério. Nossa pele ressecada padece de restauração, e esse é o momento da verdade. Vem conhecê-la. Vem me amar. Estou acordado. Sem você nada seria...

A lua no céu lembra-me da minha solidão, já são 23:00, e esse dia encerra-se. Você não está aqui. E eu, confesso que, as vezes quero ir, mas também quero ficar. As folhas secas lá fora chamam-me a caminhar. No entanto, refugio-me em mim. Deixo-me nessa estação, sem fechar as portas e janelas. Porém, não sei onde estou, vai ver que é assim mesmo, e vai ser assim para sempre. Você me deixou sentindo tanto frio nesse outono, estava acostumada a sua voz, com teu rosto e teu olhar, e quando não estás aqui sinto medo de mim mesmo, meu espírito voa longe, vai com a paisagem. E o mundo passa a ser seu...
Mas meu amor passou...


[Esse foi o meu diário de sensações destas estações, ambas inspiradas nas harmonias e melodias do CD As quatro estações da banda Legião Urbana, com a presença das letras e sentires de lá]

Que tal sentir a inspiração nascida de 4 mulheres. Suas emoções. Quereres. Olhares...

Vambora?

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Minha caixa de pandora

Risos, lágrimas, odores, sensações, dores, amores, sons, perdas, desamores, imagens. Tudo dentro da mesma caixa: A minha caixa de pandora - memória. Pode parecer loucura, mas são raras as ocasiões em que desejo o esquecimento, o não sentir. Nesse sentido, pela estrada de tijolos amarelos, sigo com minha caixa, que as vezes chamo de baú, gaveta... Lá, encontram-se fotografias do que passou, mas que de certa forma está alojado em minha pele, em meus olhos, em minha alma, e em tudo que eu represento. Bem, venho refletido sobre isso há algum tempo; a memória enquanto pertencimento e identidade. Em 2004, ao assistir Eternal Sunshine of the Spotless Mind - um dos meus filmes prediletos -, percebi mais claramente esse desejo - ou quem sabe necessidade -, de fulga. E sinceramente, não acredito que a intenção seja o esquecimento, mas o distanciamento da dor. No entanto, não sei se ao deletar alguém, ou uma determinada situação essa dor venha ser amenizada, pois as memórias possuem o poder de desenhar nossos contornos e somos uma tela frente a esse espetáculo. Outro filme que fala sobre esse assunto, mas como fato verídito é Iris, que narra os últimos momentos da relação entre a escritora Iris Murdoch e seu marido. Nesse caso, a escritora começa a sentir as primeiras manifestações de alzheimer. Ver seu sofrimento com a perda de memória, causou-me uma dor que é constantemente revivida desde 2001, além do nascimento de um medo dentro de mim: O de me perder. Eu poderia relatar outros filmes que abordam esse tema, mas atualmente meus olhos e sentidos estão pairando sobre o livro Leite Derramado de Chico Buarque, estou a 10 linhas de finalizá-lo, e durante toda a leitura encontro-me novamente refletindo sobre a memória. O livro é um apanhado histórico delicioso sobre o Brasil dos últimos dois séculos, e narra a história de uma família que viveu o auge econômico, mas enfrenta uma decadência social e econômica. Quem relata essa história, é o personagem principal, um homem idoso (por volta de 100 anos) que está no leito de um hospital. Em suas narativas percebemos falhas de lembranças, confusões, criando dúvidas nos fatos narrados. Dentro disso, também percebe-se a fulga de algumas verdades que o personagem não quer enfrentar. E repetidamente, a memória falando-me sobre sua importância e força, na tela chamada humanidade. Enfim, em meu cotidiano já enfrento as lacunas que nascem do tempo e da falta de vitaminas. Porém, não desejo que apaguem minhas lembranças dolorosas e a transformem em uma mente nova e tranquila. Prefiro antes, observar, absorver e reviver as fotografias que estão dentro da minha caixa de pandora. Mesmo que as ignore vez ou outra, ainda as escolho sempre presente, vivas, lúcidas, revelando-me quem eu sou, onde estou e para aonde vou.
[que as estrelas, a lua, o sol e as estações não passem, mas fiquem gravadas em tudo o que sou]

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Desassossego

Estou com dificuldades em construir pontes entre o meu sentir e o meu dizer. Submersa ao desassossego teimo em sentir..."Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto." Os dias correm, mas não os acompanho. Lá fora, o céu está de um azul que leva-me a maio, e os ipês falam-me acerca de alegrias ainda não desfrutadas, desenhando risos, lágrimas e olhares. Reflito em palavras de desapego e permito que o som das almas cure a minha dor...mas ela teima em ficar agarrada às superfícies ásperas do meu ser. Fico a observar aqueles que nasceram para a alegria; seus risos encantam-me, mas o que fazer, se parte da minha felicidade está na forma de apreciar a beleza da tristeza... “Mas eu fico triste como um por de sol quando esfria no fundo da planície e se sente a noite entrada como uma borboleta pela janela”. Borboletas revelam-me essa construção contínua chamada vida. E essa mulher de várias manifestações e sentires... e quereres em forma de risos... e leituras de um abismo mais profundo do que qualquer vazio, permeado de cores e sons.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Nascerá

Uma multidão de letrinhas habitando minha mente, como um furacão que vai surgindo, se misturando, se perdendo e consumindo tudo ao seu redor. Uma a uma jorrando em meu colo, rolando braços, barriga, pernas...Os poros perdem o equilibrio, a transpiração revela-se intensa. Eis a esquizofrenia dessa sexta-feira. Reflexos de uma filosofia de segunda, mas que ainda não pussui força suficiente para me tornar indiferente. Palavras que nascem de um sentido, sem formarem teorias. Quereres que transpassaram a noite, trazendo armas, vozes e medo. Dialogando acerca de um falso sossego...Porém há um abrigo, e este é seu abraço, seu beijo, sua voz acalentando-me...As letrinhas criam palavras, e as palavras frases, e as frases dias, semanas, estradas, viagens e estações...e alguns humanos vão pra nunca mais voltar, mas há os como nós, vivendo em dias de eterno vai e vem. Desenhando seu destino, colorindo o caminho... E o furacão? É consumido pelo nosso encontro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Durma bem, querido

Cheguei a ponto de encontrá-lo. As folhas ainda estavam secas e os ipês lutavam contra o frio do inverno. O vento contava velhas estórias, e num momento de um leve suspiro nossas mãos se encontraram...Essas mãos que passearam pelos meus contornos, apreendendo curvas, pele, carne, e absorvendo minha alma... Seus olhos ainda sorriam para mim. Esse contraste do verde biológico e o amendoado de um amor que outrora havia habitado ali...O tempo estava leve. O espaço era transparente e sútil, mas as palavras surgiam como a despedida de um pôr do sol. Jamais seriamos os mesmos, mas já não éramos...Ainda pego meus olhos pousando sobre seus lábios. Eles insinuam-me fogo, desejo... De repente sinto sua barba roçando sobre meu pescoço, mas não passa de mera vertigem. Essa barba que cantou-me acerca de papoulas da india. Fizeram-me conhecer a devassidão de uma paixão...Procuro por ele, insistentemente. Não mais o encontro. O amor abandonou-nos. Ou será que fomos nós quem desistimos de renová-lo dia a dia?... O sol queima minha pele, recordando-me velhas feridas e cicatrizes. Mas passou...Percebo que você também possui as suas. Entre sorrisos nos conhecemos outro. Com marcas do que se foi...O relógio do prédio na praça afasta-nos. Porém já não estávamos de mãos dadas. Duas estradas...O beijo da despedida. Sem sal, sabor, calor. Fomos... Um amor... Resta-nos seguir adiante. Regenerar o ser, o querer, o encontrar. Quem sabe o se perder...O cheiro dessa manhã trouxe-me você. Sem dor, mágoa. Sem amor...Durma bem, querido. Pois eu estou de olhos abertos para contemplar o novo. Apreendê-lo com dentes. Lágrimas. Boca. Olhos. Braços.


[ainda com ele]

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Manhãs de inverno

Há certas lições que são necessárias durante toda nossa existência, pois há pessoas que irão nos magoar continuamente, pelo simples fato de serem humanas. Mas diante desse conhecimento, o que fazer perante as piores características humanas?
Bem, sempre esperei o melhor das pessoas, e por mais que eu quebre a cara e, fique momentaneamente com reservas, acabo dando novas oportunidades para as relações - nesse caso, refiro-me às amizades.
Possuo um ar inocente - como a confiança depositada pela criança nos adultos -, não sou capaz de enxergar o mal nessas relações, e exatamente por isso, as pessoas são capazes de magoar-me muito.
Aliás, enxergar todos os contornos de algo/alguém/situação, é muito característico da minha natureza. Porém, há momentos em que a dor desempenha o papel de educadora, esforçando-se por ensinar-me a agir diferente. Contudo, somente ao pensar na dor que surgirá ao agredir o meu ser, em busca dessa mudança, fico impedida de ir adiante. Nesse sentido, reflito se realmente devemos deixar de ser quem somos, para nos adaptar frente a essa luta denomidada relações sociais.
Não desejo perder essa inocência, mas preciso resguardar-me. Afinal, também não quero deixar de acreditar no paradoxo humano. E por mais que as dores causadas por este, sejam inúmeras, eles ainda são capazes de nos surpreender para o bem.

Hoje entre essas duas citações, pois o dia está cinzento e as folhas marrons, nessa manhã de inverno...

"Se a vida não tem preço, nós comportamo-nos sempre como se alguma coisa ultrapassasse, em valor, a vida humana... Mas o quê?"

"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."

[nem tudo é tristeza, ainda mantenho-me acordada para as alegrias que podem nascer de um sorvete de limão, um treino de box, o ronronar de uma gata, uma amiga preocupada com minha sensibilidade, e o novo que há em cada dia, mesmo que esse seja em formato de uma nova música sussurrada em meus ouvidos. Além disso, adoro as manhãs de inverno]

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cativando

Recentemente, visitei o pequeno príncipe de Saint-Exupéry novamente. Isso há umas duas ou três semanas atrás. Contudo, meu ser ainda está impregnado da presença desse lindo menino de cabelos cor de sol.
A RAPOSA E O PRÍNCIPE
...
__Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
__Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
__Ah!desculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou:
__Que quer dizer "cativar"?
__Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
__Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
__Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bemincômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?
__Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
__É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços...".
__Criar laços?
__Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual
a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
__Começo a compreender, disse o principezinho...Existe uma flor...eu creio que ela me cativou...
__É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
__Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
__Num outro planeta?
__Sim.
__Há caçadores nesse planeta?
__Não.
__Que bom.E galinhas?
__Também não.
__Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia:
__Minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca ,como se fosse música. E depois,olha! Vês lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
__Por favor...cativa-me!disse ela.
__Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
__A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
__Que é preciso fazer?perguntou o principezinho.
__É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei para o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
__Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
[ouvindo um novo som, ele]

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quimeras

Quero descansar em seus olhos, sabendo-o não miragem, mas a força de um abrigo. Quero a poesia que nasce do seu sorriso. A companhia em estrada de tijolos amarelos nascidas de sonhos.

Quero pescar estrelas à noite que precede seus abraços. O cheiro de montanhas iluminadas pela vida que transborda em manhã de domingo. Quero o tempo em forma de encontro, e o forte sabor de um café em noite de sexta. Quero músicas de nossos risos. Lágrimas que surgem destes, por não caberem em nossos lábios e ultrapassarem nossos corpos e alma. É este querer em formato de contínua esperança. De espera acompanhada por canções que trazem seu corpo alojado em minha pele. Quero a certeza de ser cativada sem ser acorrentada. A liberdade de te amar. E o esforço de ainda pensá-lo, querendo-o. Quero a solidão que chama teu nome. A saudade que avista o céu do por do sol. E a contemplação do nascer de um novo dia. Quero tudo isso por inúmeras vezes. E não desistir por ainda não ser capaz de tê-lo. Quero a chuva de agosto para molhar meus pés e lavar minha alma. O céu que surgiu ao colocar-me de pé. A poesia construida por mais este dia. Quero querer-me sempre. E não despedir-me nunca.

[quimeras nascidas em uma manhã de domingo]

[Hoje na companhia dela]

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Metade - Por Oswaldo

E que a força do medo que tenho, não me impessa de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos nem a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.
Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia, e a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor, e a outra metade...
também.

"....Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música que a gente ria
É tudo que eu cantaria
E quando eu for embora você cantará."

Por Oswaldo Montenegro

Através da noite

Ao acordar, descobri que a junção de álcool e quinta-feira não é das melhores. Segui viagem entre a sobriedade de se viver outro dia e a ressaca do ontem. Chegando em algum ponto, lembrei-me da multidão de pequenas coisas que possuem em seus contornos, representações de alegrias infindas. Finalmente, sexta-feira, minha imaginação corre livre. As estrelas ainda falam-me acerca dos balões. Quem sabe não pegue algum cometa e siga voando por aí... Vou fazer isso através da noite. Alguém quer vir comigo?


[aos amigos que embarcaram no mesmo trem comigo essa semana: Devah, Vera e Vini - o início do mês teve um sabor especial, graças à vocês]

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Minimamente Feliz

Por Leila Ferreira - jornalista.

A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.
Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de
que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.
Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir. São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.
'Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu
esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.
Alguns crescem esperando a felicidade com maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular:
'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.
Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'.
Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.
Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'.
Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje. Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?
Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.
Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas
alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.
Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.

[Enviado por uma amigo muito querido - Devah]

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Outras estações

Após uma noite de leveza, acordei preparada para pegar um trem para as estrelas. O desejo é encontrar os balões (desde que estes foram embora). Prometo entregar-me às paisagens; aos campos de girassóis que forem surgindo no decorrer da viagem. Também permitirei que o sol aqueça meu coração, acalentando-me no eterno ir e vir da alma. Nas noites frias, esperarei pacientemente pela lua, responsável pela esperança no breu. Ao embarcar, penso que é bem possível que eu seja surpreendida ao longo dessa viagem. Afinal, o amor pode surgir em alguma outra estação, trilho ou vagão...
Eu só espero que ele não me peça malas, pois tudo o que possuo são meros contornos, melodias e harmonias.
[Hoje na companhia dele, e dele]

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Estação e Doçuras

A ESTAÇÃO
" Por frações de segundo seria amor, mas por receio resolvi descer na próxima estação."
Por mim.



DOÇURAS DO CÉU


O céu de ontem estava com sabor de algodão doce. Seu sorriso era largo, como daquele menino. Namorando suas cores, quase me perdi entre os balões - juro que os vi lá no alto. Ao nascer, trouxe-me eles, não permitindo que eu me sentisse sozinha. No final da tarde, quando o breu tentou adentrar, lembrou-me das asas e senti uma multidão de sensações. Soltando fogos, agradeci pelos presentes. Porém, a noitinha, quando estava a me despedir, recebi a maior das delicias.


[são nas pequenas delícias da vida que sinto-me viva, as surpresas que ela proporciona para os que não estão dormindo]

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A chegada de gosto (agosto)

Tranquilamente, abri as janelas para que ele adentre. Sabê-lo enquanto desgosto, não impede-me de esperanças. Pois com ele, também chega o folclore. A Melancholia de Lars Von Trier. E a comemoração do meu nascimento. Com balões e flores. Amigos e risadas. Abraços e doces. Mês de Crime e Castigo de Dostoiévski. Leite derramado de Chico. Francês e antropologia na UFMG. Momento de enxergar e sentir o nascimento de novos girassóis. Afinal, quem disse que em agosto as flores dormem?

"Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles."


[Rubem Alves - companheiro de muitos invernos]