Atitude do Pensar

Atitude do Pensar

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ela, entre lagartas e borboletas

Meus passos tem sido trôpegos. Lentamente o relógio canta tic tac. Seu ritmo é lento, uma harmonia bela, triste e sufocante. Paulatinamente dou passos em busca de uma paz que não é visível. Desisti de falsas esperanças de primavera. Necessariamente, vivo submersa em invernos gélidos. Não estou presente, porém, também não ausente. Ouvir é necessário. Refletir. O medo bate à porta e espreita-se entre espinhos alojados em minha alma. Há luz. Esta, encontra-se fraca, mas ainda é capaz de anunciar vida e consolar-me com seu calor. Os abraços e sorrisos daqueles a quem amo expressam o refúgio encontrado pelo meu ser. Confiar é preciso. O momento pede tempo ao próprio tempo. À escrita e às visitas. O voltar ainda não é certo, mas afinal, sempre estarei somente de passagem. A metanónia expande-se, e eis que uma nova borboleta surgirá. Ela menina. Ela, em busca de novos balões.


[quando for primavera eu retorno, enquanto isso, fica a saudade de todos]

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ainda é inverno

"Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambigüidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos."

Lya Luft

Sei que sou invernos e outonos e, que ainda não aprendi a ser primavera. Contudo, algo me diz que os mesmos olhos que aprenderam a alcançar os ipês do inverno, será capaz de se transformar em primavera.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A morte da esperança

Dizem que a esperança é a última que morre.
Se for, estou a um passo da morte, habitando comas da alma.

"Fiquei. Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto."

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Máscaras da feiúra

Ouvimos diariamente as seguintes afirmações:

- Beleza é relativa.

- Há gosto para tudo.

No entanto, os padrões de beleza estão postos à nossa frente por meio de todos os formatos de mídia. Sendo assim, constantemente, muitos de nós buscam se adequar a esse padrão. Porém, o alcance deste é caro e trabalhoso, e alcancá-lo pode custar a própria vida, como percebemos através de doenças como a anorexia e a bulimia.

Dentro disso, sabemos que esse assunto tem sido discutido por diversos especialistas, contudo, pode-se visualizar a necessidade de que essa discussão não se limite somente aos padrões estéticos, mas comportamentais. Adentrando nosso cotidiano e nossas relações sociais, nossa identidade individual e a forma como agimos diante da sociedade.

Para Aldous Huxley "A beleza é uma carta de recomendação quase impossível de ser ignorada; e com muito frequência atribuímos ao caráter a feiúra do rosto...não fazemos a menor tentativa de penetrar além da máscara opaca da face até as realidade existentes por trás dela, mas fugimos dos feios ao vê-los sem tentar sequer descobrir como são realmente".

O escritor ainda dirá que desde criança possuimos aversão ao feio, e que ao ver certo visitante cujas feições lhe pareçam desagradáveis a criança foge, porque o visitante "feio" é "'ruim", é um "homem mau". Quanto ao homem na idade adulta, não irá mais gritar ou sair correndo, mas raramente permitirá que os atos do "feio" próvem que seu rosto lhe contradiz seu caráter.
Na sociedade contemporanea - ou desde que há humanos -, há aqueles que fazem sua própria imagem e seu estilo, alguns tão autênticos, que tornam-se bizarros, "feios", estranhos, peculiares, ou como você, caro leitor, desejar chamá-los.

Bem, dentro desse universo de "feios e belos", eu não seria a melhor pessoa para "enquadrar" o que é "belo" ou "feio", pois como eu já comentei por aqui, os peculiares sempre me chamaram a atenção. Não pela possível feiúra, mas pela autenticidade. Porém, dentro de toda essa discussão, foi a fala de Huxley que me deixou refletindo. Afinal, temos como um dos desafios, ultrapassar as máscaras da feiúra, do estranhamento. O que, infelizmente, como demonstrado muito bem por ele, raramente conseguimos.

A feiúra e a pobreza ainda são capazes de trazer desigualdades, criar estigmas, paradigmas. Ou melhor, nós damos vida a esses, e permanecemos reproduzindo barreiras, padrões e conceitos negativos.

Enfim, o que pode ser "feio" para um, pode não ser para outro. Contudo, ultrapassar certos conceitos negativos é um desafio necessário à todos.

Viva a alteridade!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Beira-Mar

Eu sei que é apenas o início de uma semana e, sinceramente, uma segunda-feira não costuma me assustar. Paulatinamente, me empenhei em ir além do tempo gasto no trabalho, dar algumas voltas pela praça, e quem sabe, lá, encontrar alguma paz brotando dos jardins da "Liberdade". Mas era um querer pesado. Afinal, meu corpo ainda encontrava-se na desesperança do ontem. Enfim, aceitei o abrigo de casa, o ronronar de uma gata e a companhia de duas loiras (cervejas). Tê-las em plena segunda-feira é raridade e, portanto, entre leveza e sorrisos fui dormir, entendendo que é necessário respeitar o tempo, e, acima de tudo, o meu tempo, meu espaço, meus pedaços. O dia amanheceu, acordei reconhecendo nuances de primavera, o sorriso do céu anunciava uma nova estação. Ainda não sou capaz de enxergar as flores, a liberdade. Mas amanhã...ah, amanhã será outro dia...e hoje, quero apenas o mar.



"Olhe, por dentro das águas há quadros e sonhos. E coisas que sonham o mundo dos vivos."

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mulher à madrugada

Hoje eu queria poder dizer que tudo está bem. Que os sonhos estão vivos e com cores vibrantes. Gostaria de acreditar que ainda reside esperança. Que esta, encontra-se no céu e nas promessas de primavera. Porém, infelizmente, meu corpo está cansado e meus olhos ressecados. Acreditar está difícil, doído, sofrível. Na longa viagem realizada na noite de ontem, percorri lugares que me são conhecidos, mas tudo estava tão escuro e distante, não sendo possível enxergar as cores que outrora ali já estiveram. Após o regresso, percebi que as flores do jardim estam mortas. Não há alegria em renascer. Sorrisos são inexistentes e o sentir está confuso. Contudo, não é medo, tristeza. Mas sim, um cansaço, um não querer, uma desesperança. A espera e o silêncio sugaram minha força. É, quem sabe "algum dia, talvez, algum dia, nada mais vai ser assim". Quem sabe em algum momento dessa estação, eu possa dizer: "Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira". No entanto, hoje sou apenas pedaço. Espera. Desesperança. Espaço. Silêncio.

[Título dessa postagem, inspirada em uma produção mineira "Mulher à tarde", que assisti na Mostra Indie, na companhia da , minha amiga Tempestade. Frases citadas, nasceram das primaveras de Cecília Meireles]
[Ouvindo um som novo, peculiar, ela]

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Era setembro

Era o quarto dia do mês. Final de noite de um sábado de samba. Meu corpo estava coberto por um vestido estampado de flores, e meu sustento protegido por sandálias verde de couro. O encontro estava permeado por uma atmosfera de mágoas, rancores e tentativas frustradas. Minha pele arrepiada pelos últimos vestígios do inverno, sentia frio. Porém, mais gélido ainda estava meu coração. Os últimos meses possuíam em sua fala, melodias de um tempo que não poderia mais ser vivido, porém, havia deixado feridas profundas.
Contudo, foi amor. E onde agora existia somente dor, havia residido risos, abraços, mãos dadas, calor. Sendo assim, as duras palavras que saiam de sua boca contrastava com o tamanho do bem querer que seus olhos sempre me contaram.
O vento cortava minha pele, mas era meu coração que sangrava. Entre espaço e silêncio nossos corpos resistiam. Respondendo-lhe calmamente, eu disse: É o fim. O último abraço de um amor cor de amêndoa. Com cheiro de matte. Fim: sem lágrimas ou temores.
Afinal, o calendário anunciava o final do inverno e o inicio da primavera. Nova estação, nova alma, novos poros, novos quereres e sentires. As flores iriam reflorescer. As noites seriam mais curtas e os dias de sol mais longos.
Era setembro.

[Nunca fui muito boa com datas, mas foi em 04/09/2010 que tivemos a certeza que já não era mais amor]