Atitude do Pensar

Atitude do Pensar

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Olhar

O Olhar
Mais do que os olhos, o que me fascina é o olhar...
No olhar, me levo, me levam, me sinto leve, ultraleve, feito em vento, o olhar, incerto a me planar...
No olhar, me deito, um leito, no eito, amor-perfeito, feito em terra, o olhar..., fértil a me sementear...
No olhar, me desfaleço, me enterneço, me amoleço, de novo me enrijeço, feito numa forja, o olhar, acesa a me moldar...
No olhar, me vejo, me velejo, me verso, me sinto submerso, Jonas lançado nesse mar, o olhar, sempre a me tragar...
O olhar, esse, que quando me indaga é adaga, a querer me intimidar: ‘’Quem é esse outro olhar a me espelhar, quer em mim a si mesmo se decifrar?“
O olhar, esse que, judicioso, me captura, em nudez me apura, torna-me indesejável a minha soltura...
O olhar, esse, laborioso, me tange, me abrange, ceifa-me feito o trigo pelo alfanje...
O olhar, esse, pelo qual fui cirandado, me fez iluminado, como só poderia quem em afeto é enredado...
O olhar, esse, por quem me quero tornar no que se deixa apanhar, para dissimular o apanhador que, em encanto, colhe outro olhar que pelo meu se deixe encantar.
[Presente de Paulo Penna]

domingo, 8 de abril de 2012

Adeus

Sem palavras bonitas, mas dotada dos sentimentos mais grandiosos me expus à sua frente. Aceitei o mistério da espera e a loucura desencadeada pelo querer-te. Meu sonho foi envolvido pelos risos e apesar da atmosfera de rejeição, onde a dor me perseguia as lágrimas não se fizeram presentes. Procurei sua companhia em outros olhares, seu abraço em outros contornos. Sim, mera ilusão. Nascida de um querer-te maior do que o amar-me, mas eis que o outono chegou, as nuvens revelaram a verdade oculta neste querer-te. Acordei! Ainda cambaleando descobri que era necessário dar outros passos, conhecer novas estradas. Porém, dessa vez escolho estar só. Evitando que este velho coração sabote os sonhos que rodeiam minha mente. Não te escrevo cartas de despedida. Não faço uma ligação dizendo que o querer ainda está aqui. Simplesmente, pego minha bagagem e sigo meu caminho. Adeus!

domingo, 25 de março de 2012

Entre risos, liberdade, leveza e medos

Eu tenho medo da apatia, do não sentir, do distanciamento da minha humanidade.
O sentir e o ser caminham entrelaçados, portanto também tenho medo do ter. De me perder entre a futilidade. Tenho medo de não me permitir dar um passo, medo da queda. Sim, tenho medo do espelho, dessas várias manifestações de mim mesma.
Porém, este mesmo medo me impulsiona a sentir. Com todos os meus sentidos e com uma intensidade assustadora.
Por sentir, abro portas facilmente, deixo a brisa entrar, bem como o fogo.
E este fogo consome-me, deixando cicatrizes, vestígios de expectativas frustradas.
Mas como não sentir?
Como deixar portas e janelas trancadas?
Talvez o segredo seja a medida da intensidade. Mas como privar meus sentidos de me dominarem?
Como viver uma vida de reservas?
Como construir pontes permeadas de receio?
Deixei você entrar, não de primeira, mas nos permiti uma segunda chance.
Você se foi quando eu mais precisava de você, e aqui dentro ficou repleto de incógnitas.
As palavras lançadas por seus lábios ainda habitam meu ser. No entanto, percebo que infelizmente são meras palavras.
Quando você se foi, algo de bom aconteceu, risos se fizeram presentes. Liberdade e leveza bateram à porta. E novamente permiti a entrada do novo, porém, veio o medo e ele ainda reside em mim.
Por onde você está meu lindo raio de sol? Não ouço nossos risos.
Tenho medo.
Medo de querê-lo mais do que a liberdade e leveza possam ser capazes de disponibilizar.
E eu quero!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ir

Aqui dentro tá quente e tenso, talvez por isso queira estar lá fora, deixar o vento levar tudo que é pesado. Quem sabe ser levada com as nuvens, sem obrigação de pousar ou fazer morada.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Quintana e as expectativas

Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande.As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você. O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!


[Mário Quintana]



No fundo, penso que as expectativas possuem a característica de ser uma parcela do nosso combustível locomotor. Viver sem elas, portanto, será como viver sem desejos e sonhos. Entretanto, há uma necessidade de aprender a não depender dessas expectativas, e no sentido do que disse Quintana, não precisar delas, pois somos completos - em essência.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Apenas mais um dia

Amanheceu e ainda era trevas. Preferi acreditar que o amanhã chegaria, mas não pude recolher-me em lençóis macios e quentes. Na tentativa do primeiro passo, cambalei e me perdi entre pernas, pés, dedos, sonhos e expectativas. Era a desesperança . Um novo tentar. Eis que nasce mais um levantar e, paulatinamente, o passo foi ganhando lugar e apreendendo o espaço. O dia exalava o odor da minha alma, senti sabor de fel. Havia cores vibrantes, mas a minha única capacidade encontrava-se em absorver a escuridão da vida, o desejar da morte. Era um poço? Um labirinto? Não, era apenas mais um dia. Mais uma dor.


[ainda bem que sempre tenho onde me repousar]

E assim ela caminha

“Ela é assim! Pronto.Mas assim como? Explica!Ela é assim um mix de tudo que se possa imaginar dentro de uma grande capacidade de apenas não ser nada em definitivo. Ela é aquilo que não consegue se encaixar em moldes pré-existentes, parece que ninguém nunca foi antes dela. Ela se incomoda com isso, às vezes, muito.Ela é cheia de sentimentos, parece que suas experiências se manifestam é no dorso do seu colo, e quase sempre, de vez em quando, tudo isso pesa. Mas não tem modo, não existe maneira que a faça ser diferente. E ainda, graças a Deus, ela é diferente. Algo que pesa e que tem o dom da leveza, algo que chora e que se manifesta em sorrisos, algo de forte, mas que se desmancha quando encontra a água.”
[Clarice Lispector]

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Só quero um amor

Foi assim: Revendo algumas imagens pela janela da alma, encontrei esses rascunhos. Logo pensei, sou humana. Mudo constantemente. Porém, há certos anseios que fazem parte de nossa essência. Eis um deles:
tudo o que quero pra vida é um amor que chegue sem ser convidado.amor que mude de corpo.transitando entre o eu e o mim.amor de alma.amor de fogo e gozo.amor límpido e subversivo.amor que me chame de amor.meu amor.amor que me traga balões e não flores mortas.amor de todas as cores.amor com asas e raízes.quero um amor que seja capaz de rescussitar o que se encontra morto.enterrado.um amor que mova tudo.que cause assombros.um amor sagrado.amor que abra as janelas e as portas, adentrando sem ter medo ou reservas.quero um amor que me dê estrelas do mar.a lua.os versos.que desenhe meu nome nas vidraças.que voe.eE que em mim faça tatuagens.amor sem rima, sem trama, sem dramas e sem tragédias.amor com cheiro de café e sabor de milkshake de nuttela.amor desbravador.amor sem dor.humilde e ousado.descalço.nu.entregue.amor que desafie a chuva, o vento, o tudo.que me desafie a amá-lo.e também por ele esperá-lo.só quero isso.um amor.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

TRADUZIR-SE

Por Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -será arte?

domingo, 8 de janeiro de 2012

Decifra-me ou te devoro

O que fazer quando o óbvio se torna indecifrável?
Quando a Esfinge argumenta: Decifra-me ou te devoro!
Nesse momento, descer à próxima estação é algo tentador.
O misto do medo do desconhecido e das dores outrora já vividas paulatinamente me impulsionam às descidas.
Porém, descer seria algo muito fácil; uma covardia.
Assim sendo, vou seguindo - enquanto for possível e em mim houver desejo e força.
Apesar de que a chuva lá fora e aqui dentro contrastam em meu ser, acredito que, o sol aparecerá, inundando-me do seu sorriso ao longo do caminho.
Enquanto isso, empenho-me em decifrá-lo, e quem sabe ser devorada - o que talvez não seja de todo ruim.