Atitude do Pensar

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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

El piel que habito - Velhas questões que permeiam nossa humanidade

Desde que assisti ao filme Edukators no inicio desse ano, eu não havia tido o prazer de assistir nenhum outro filme que o superasse e, portanto, encontrava-me em pleno anseio por dois lançamentos que iriam ocorrer: Melancholia de Lars Von Trier e El piel que habito de Pedro Almodóvar.
Acerca de Melancholia calarei-me, pois até a presente data não foi possível degustá-lo, mas quanto a nova produção de Almodóvar pretendo rascunhar algumas palavras nas linhas que se seguem.

Almodóvar é conhecido por trabalhar questões delicadas e polêmicas em seus filmes, apresentando constantemente mulheres fortes, personagens emblemáticos e complexos. Além de possuir cores que o representam por meio do vermelho, roxo e verde.

No entanto, dessa vez, o diretor resgata um personagem masculino e o que permeia sua vida. Contudo, de certa forma, acredito que ao entrar no cinema, muitos ainda esperam que em algum momento - mesmo que sutilmente -, se depare com o perfil de mulher retratado pelo diretor. E isso ocorrerá, porém, repleto de outros atrativos.

O filme contém todas as temáticas discutidas ao longo dos filmes já produzidos por Pedro e revela personagens paradoxalmente fortes e frágeis, o que não é nenhum ponto diferencial do que o diretor traz ao longo de sua carreira, como produtor e diretor.

Porém, através de um enredo de tirar o fôlego, Almodóvar aparece mais maduro, e a trama nos envolve em cada segundo. Não há somente um grande personagem, mas seis personagens que contribuem para que a história contada vá criando uma atmosfera que pondere a diversidade humana, bem como o encontro de nossas mazelas e o que surge delas.

La piel que habito, em minha humilde opinião, é a melhor obra do autor assistida por minha pessoa. Narra um conjunto de histórias que se entrelaçam a partir de perdas, omissões e vulnerabilidades.

Almodóvar nos mostra que são nos traumas que encontram-se as maiores mazelas da humanidade. Na fragilidade humana que inicia-se e encerra-se nossa humanidade em toda sua plenitude. Podemos observar reflexões críticas em relação a cirúrgia plástica, as questões de gênero, a identidade, a liberdade e às relações sociais. Ambas visivelmente articuladas.

A trilha sonora merece muita atenção, pois é de uma qualidade sonora excelente, além de nos permitir mergulhar pela cultura européia e latina. O Brasil aparece através de músicas e por meio dos personagens Zeca (Roberto Álamo) e Marília (Marisa Paredes).
E para que eu não descreva mais do que deva ser revelado, encerro-me por aqui, ainda digerindo esta incrível produção cinematográfica.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Cultura elitizada

Iniciei os primeiros rascunhos desta postagem no final do mês passado, mas a correria cotidiana tem me aprisionado e, portanto, falta-me tempo para dar o devido valor ao assunto. No entanto, ao ler o artigo Cultura de crises ou crise de cultura? do Doutorando Rafael, acabei me rendendo a esta velha discussão que permeia minhas reflexões: Cultura x Acesso.

Muitos teóricos defendem que a cultura e a educação são os pilares da democracia, igualdade, cidadania e emancipação. Contudo, temos alguns paradigmas como Cuba, que nos revela que há uma necessidade de estender estes à outros itens de direito, como o acesso a bens e serviços de qualidade, dentro do âmbito da saúde, propriedade privada, alimentação e afins.

Porém, como este assunto é amplo minha intenção aqui não é trazer conclusões, mas sim, reflexões. Nesse sentido, não irei discorrer uma comparação mais intríseca - não nesse momento. Entretanto, dentro desse universo, várias críticas perspassam minha mente, tais como o que é acesso à cultura - que em si já é tema para grandes discussões.

Outro ponto sempre presente em minhas discussões acerca da cultura, situa-se em qual é a participação da população na criação das políticas públicas culturais e qual a porcentagem que o governo deve reservar para a cultura.

Um bom exemplo da problemática existente nesse ponto é o que tem ocorrido atualmente em Belo Horizonte: Chico Buarque veio para lançar seu novo CD - o que deveria ter me alegrado sublimamente, contudo, sua vinda representou apenas uma cultura popular elitizada, uma vez que o ingresso custa R$290,00. Sendo assim, somente a elite econômica participará. Por outro lado, neste mesmo momento, recebemos a informação de que o governo mineiro diminuiu 18% da verba para a cultura. Restando-me recordar-me das produções intelectuais brasileiras, nascidas de uma elite que possui educação e cultura de qualidade, uma elite que tem acesso ao que se autodenomina música popular brasileira.

Nisso, surgiram algumas perguntas: Que elite é essa? Que música popular é essa? São respostas que não possuo, mas me encaminham em rumo a outras reflexões. Como por exemplo, na defesa de alguns pela popularização da cultura - o que temos observado em campanhas do Estado, onde este disponibiliza o serviço por preço mais acessível. O que acredito ser válido, porém, é apenas um início, um paliativo, pois o preço mais acessível contribui principalmente para os que já consomem cultura, ou seja, estes, passam a consumir mais, e os que não consomem, não se achegam a ela.

Mas afinal, é importante lembrar que acesso está além da disponibilização da cultura. Está nos mecanismos que nos permite chegar até ela. Dentro disso, me questiono acerca do que nos impulssiona a participação. Outro item que encabeça essa discussão, encontra-se em o que faremos com essa disponibilização, com esse conhecimento da cultura. Em suma, o que ela produzirá em nós e por meio de nós.

Em seu artigo, Rafael defende a necessidade de uma sociedade de cultura que se contraponha à sociedade de consumo, o que sou a favor. Já Stuart Hall defende a necessidade da utilização dos mecanismos já existentes, como a cultura popular (futebol, carnaval, maracatu e afins) para a difusão de novas discussões. E o principal, como um canal de emancipação e cidania. O que é de um valor imensurável.

Sendo assim, qual será o primeiro passo?

Desconstruir a cultura elitizada?

Como?

Por meio da participação popular frente a construção das políticas de cultura?

Com certeza.

Mas como o povo se achegará a cultura?

Quem o levará?

O Estado?

Muito pouco provável.

O próprio povo?

Talvez.

E como sugeri no início, que a discussão permaneça.


[perdoem-me pelo sumiço, espero que ano que vem as coisas se regularizem]