Atitude do Pensar

Atitude do Pensar

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Você tem fome de quê?








Poderia discorrer inúmeras coisas sobre o tema dessa postagem. Seguir uma linha filosófica, econômica e social.
Qualquer uma delas, ou ambas, muito me agrada. Mas o fato é que a ideia dessa postagem surgiu de uma boa surpresa do Google – a maior qualidade do “oráculo” encontra-se na disponibilização de um imenso acervo bibliográfico.
Estava eu a pesquisar livros para baixar e de repente, junto a 1 milhão de outros livros uma imagem salta aos olhos: 2 crianças africanas envolvidas por outras imagens.
O nome era sugestivo: Causa Nobre. Mas sinceramente, não aguentava mais ler sobre assistencialismo e assistência.
Porém, se tratava do primeiro romance publicado pela mesma autora do livro “Diário de Bridget Jones”. E como não li o livro, mas sou apaixonada pelos filmes, dei algumas olhadas.
No entanto, foram as duas palavras que vislumbrei ao ler a sinopse, às grandes responsáveis pelo afeto criado entre nós – o livro e eu.
Sarcásmo feminino e Crítica ao assistencialismo soaram como uma bela melodia aos meus ouvidos. Enfim, não resisti e acabei percorrendo as 213 páginas rapidamente.
Ontem, com grande pesar encerrei a leitura. Ele é um livro com tiradas engraçadas, dialogos inteligentes, personagens interessantes e um roteiro fenomenal.

Exatamente o tipo de livro que você anseia em terminar, somente pela curiosidade de saber o final, mas se entristece ao saber que acabou, pois quer mais.
Causa nobre, conta a história de Rosie Richardson, mulher que abandona o mundo dos famosos para viver na África, ajudando os refugiados.
Porém, o livro está muito além do que escrevi nas duas linhas a cima, Rosie é uma mulher por volta dos 30 (primeira identificação) que se apaixona por um apresentador de programa garanhão e egoísta. Vivendo essa relação como uma gangorra (segunda identificação). E após várias feridas devido a este relacionamento, resolve abandonar tudo, como forma de esquecer o tal cara e vai pra África (terceira identificação). Lá, vive 4 anos como responsável pela administração de um campo de refugiados.
Nesse local, a protagonista enfrentará seus próprios valores e acabará voltando à Londres, no intuito de levantar fundos para socorrer os refugiados.
Enquanto instituições governamentais e não governamentais nada fazem para amenizar a situação, incluindo aqui a ONU, Rosie se verá frente ao seu maior medo, o reencontro com Oliver – o tal ex namorado -, e a utilização da imagem dos famosos – que lógico, estão mais interessados na alto promoção do que em salvar africanos -, como forma de angariar fundos para os refugiados.
Por vários momentos ri, chorei e me enxerguei naquele enredo. Para no final, questionar novamente meus próprios valores e coisas que não entram em minha mente, como por exemplo, a morte de várias pessoas por falta de comida enquanto o mundo é repleto dela.
Com bom humor a autora abordará temas polêmicos que perpassam pelo meu cotidiano enquanto assistente social, afetivo e tantos outros que englobam o meu eu.
Preciso dizer que indico a leitura?!


Eu tenho fome de justiça, respeito, amor, paz, igualdade de direitos, emancipação e de tantas outras coisas.
E você???

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fetichismos Sociais





Mudando de assunto...
Ontem, ao ler a postagem do Diego: A persistência como intervenção - blog: CÂMARA DE VIGILÂNCIA fiquei cá pensando com meus botões sobre a Revolução Industrial; Alienação; Mais-valia; Fetichismo.
Enfim, tentando contextualizar como tudo isso tem refletido e, sucessivamente se apresentado em nossa sociedade.
Por mais que eu venha me esforçando para dissecar esse tema, desde o início da minha graduação - tanto o curso quanto a última faculdade contribuiram; o primeiro obtém sua reformulação na década de 60 a partir das teorias de Marx e no segundo caso, a faculdade segue a corrente Marxiana -, ainda tenho muito a refletir sobre os conceitos trabalhados por Marx e seus seguidores.
Nesse momento, minhas reflexões estão especificamente voltadas para o Fetiche Burguês - Fetichismo.
Apesar de Marx apresentar uma crítica ao Fetichismo, enquanto alienação da sociedade burguesa, busco analisar a evolução desse conceito e sua efetivação na sociedade contemporânea. E ao fazer isso, percebo as mutações ocorridas.
Dentro desse universo, minha intenção é simplória: apresentar de forma suscinta esta mutação, isto é, minha perspectiva da mesma.
No caso da sociedade burguesa, a vida social é constituída por um complexo fetichizado de formas sociais estranhadas ou fetiches (produto-mercadorias, instituições,valores/ideologias sociais) e dentro disso, entendo que o Fetiche passava por 3 passos: visualizar, desejar e conquistar (consumir).

Na atualidade, temos 3 problemáticas presentes que contribuem para o Fetichismo Social: Consumismo; Liquídez; Efemeridade mercantil e social.

Nesse sentido, compreendo que ambos influenciam nessa mutação, ou seja, por meio do impacto que essas problemáticas - que representam em parte a sociedade atual; independente da classe social -, causam sobre a sociedade, o Fetiche sofre alterações, principalmente no 2º passo: Desejar.

Deixe-me explicar: Dentro do processo de desejo há algumas ramificações, como o idealizar e sonhar. Ou seja, você vê um objeto, imagina-o sendo consumido, imagina sua vida com ele, suas representações e importâncias.

No entanto, na sociedade de consumo, tudo tornou-se efêmero, os objetos, sentimentos e ideais não possuem mais uma grande durabilidade e a consciência do desejo está cada vez mais distante.

Você compra ou defende uma ideologia sem saber o porque. Sem necessidade. Sem sonhos.

Sendo assim, a mutação sofrida merece uma crítica mais profunda. Necessita que nós venhamos refletir nos porques.

Por que estou comprando isso?

Por que estou assisntindo esse programa?

Por que estou defendendo essa ideia?

Por que quero isso?

Como disse ao Diego, nossa sociedade possui dificuldades de gostar realmente de algo. De acreditar em algo.

E é por isso que desistimos tão fácil.

Não há fetiche.

Não há ideais.

Bem disse Cazuza "ideologia, eu quero uma pra viver".

Eis um dos motivos que prefiro a lucidez.

Amar é uma escolha?

Como bem sabemos, a vida é permeada de escolhas. Inclusive, viver pode ser uma delas.

Dissecando o tema relacionamento, tenho pensado muito se amar é uma escolha...

Nesse sentido, lembro-me exatamente do momento em que dialogando com meu eu, disse: Escolho amar o Sandro.

E sinceramente, por sorte, ou não sei o que, deu certo - no início não estava tão envolvida na relação, o amor não tinha chegado -, pois no decorrer da relação, o amor foi sorrateiramente ganhando espaço.

Entretanto, recentemente tive 2 homens que tentaram adentrar em meu coração - uma paixão de tempos distantes e uma nova. Porém, por mais que eu me esforçasse para amar, não consegui. Com isso, fui obrigada a me distanciar, perdendo a amizade e a oportunidade de ser amada.
Confesso que, se dependesse de uma escolha, estaria com um deles, mas tentei, e não tive sucesso.

Sendo assim, será que amar é uma escolha, ou não?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Como esquecer




Desde sua gênese, a humanidade busca respostas para seus questionamentos existenciais.

E com os filósofos, aprendi que muita dessas respostas nos encaminha a novas perguntas.

No entanto, a curiosidade do homem vai além de seus questionamentos internos, e dentro desse contexto, onde a humanidade é dotada de anseio constante por respostas sobre seus questionamento e dúvidas, o google tornou-se o "grande oráculo".

Entretanto, ainda existem respostas que o "grande oráculo" não é capaz de responder.

Entre elas, "como esquecer" um amor perdido. Enfrentando nossa vulnerabilidade afetiva e a memória que insiste em trazer a presença do outro para dentro de nós...

Há receitas de "como esquecer", mas nada cientificamente comprovada. E assim, permanecemos com uma presença fantasmagórica habitando em nosso cotidiano.

Alguns dizem que o tempo contribue para o esquecimento. Para mim, é apenas mais uma falácia entre tantas tentativas de "como esquecer".

Outros dizem que um amor perdido se cura com outro amor. Eu prefiro pensar que coração preenchido, não possui espaço para outro amor, enquanto este não se vai.

Lá se vão 8 meses e ainda não o esqueci.

Não que eu acredite que minha memória o excluirá totamente da vida, deixando apenas uma lacuna, mas se há alguma receita autêntica e eficaz de "como esquecer" eu gostaria de saber.


[a imagem é do filme brasileiro "como esquecer"]

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Flores e balões




Uns preferem flores...

Outros, como eu, balões.



Somos humanos.

Somos parecidos, mas não iguais.

Nossa digital não é a mesma, nossas verdades também não o são.

No entanto, jamais aprendemos a conviver em harmonia frente às nossas diferenças.

Antes o contrário, escolhemos furar os balões do outro, simplesmente por não serem flores.

Já disse, e repito. Ainda assim, prefiro os balões.


domingo, 24 de abril de 2011

Um copo de você

Sei que já postei uma música dela por aqui, mas não resisti a mais essa.
Uma bela companhia em minha eterna melancolia.

[Joni Mitchell - A case of you]

Um Copo de Você

Pouco antes de nosso amor se perder você disse
Sou tão constante quanto uma estrela do norte
E eu disse, sempre na escuridão
Onde isso vai levar?
Se você me quiser, eu estarei no bar

Atrás de um porta-copos de papelão
Na luz azulada da televisão
Eu desenhei um mapa do Canadá
Oh Canadá
Com seu rosto desenhado nele duas vezes

Oh, você está em meu sangue como vinho divino
Você parece tão doce e tão amargo
Oh eu poderia beber um barril de você, querido
E eu ainda estaria em pé
Oh eu ainda estaria em pé

Oh eu sou uma pintora solitária
Eu vivo em um pote de tintas
Sendo apavorada pelo diabo
E eu sou atraído por aqueles que não temem

Eu lembro da época que você me dizia
Amor é tocar almas
Seguramente você tocou a minha
Pois parte de você flui de mim
De vez em quando, nestas linhas

Oh, você está em meu sangue como vinho divino
Você parece tão doce e tão amargo
Oh eu poderia beber um barril de você, querido
E eu ainda estaria em pé
Oh eu ainda estaria em pé

Eu encontrei uma mulher, ela tinha a boca como a sua, ela sabia sua vida
Sabia de seus males e façanhas e ela disse
Vá até ele, fique com ele, se puder
Mas esteja preparada para sangrar

Mas você está em meu sangue como vinho divino
Você parece tão doce e tão amargo
Oh eu poderia beber um barril de você, querido
E eu ainda estaria em pé
Oh eu ainda estaria em pé

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Desacelerando



Meu coração sempre bateu mais rápido do que o normal.
Uma aceleração por tudo...
Pela vida. Pela morte. Pelos amores. E claro, pelos anseios infindos do meu ser.
É uma ansiedade tão presente que chama-se eu. E não mais ansiedade. Aceleração.
No entanto, nem sempre essa aceleração é favorável a mim.
Torna o sentir mais intenso do que o é.
Faz com que meus olhos sejam capazes de revelar meu coração ao mundo, mas também que este seja capaz de revelar o mundo ao meu coração.
Portanto, constantemente tenho os olhos captando o mundo, e o mundo captando meu coração.
Isso tudo me deixa tumultuada de barulhos e timbres.
Mas meu coração tem uma mania, insiste em dialogar comigo.
Ontem resolveu trazer revelações de quereres ocultos.
Que segundo ele, é um querer que - infelizmente -, não chega. Tarda.
Um querer de olhos intensos. Mãos fortes e sorriso largo.
Um querer de palavras diretas.
Permeado de desejos de ser par e sonhos de ser livre.
Um querer cafuné. Cheiros e afagos.
Um querer estar longe, mas ter perto.
Um querer suspiros.
Olhos na mesma direção.
Um querer sons e tons que emitam uma sinfonia única.
Querer beijos intermináveis. Cama. E abraços por inteiro - daqueles que arrebatam a alma.
Pobre coração, acredita que quando o querer se cumprir, ocorrerá uma desaceleração.

Como não possuo tamanha fé. Por ora, fico com o som de Chet Baker.
Desacelerando...

[Chet Baker - Almost blue]

terça-feira, 19 de abril de 2011

Outono em Ouro Preto



Não sou de expor muitas imagens pessoais.

E isso, não é nada contra a exposição em si - apenas não quero tornar o blog em algo como o facebook.

Mas achei essa foto perdida, ou melhor, guardada em alguns baús e gavetas.

Momentos de alegria. Cumplicidade. Uma viagem inesquecível.

Ouro Preto. 2009. Na foto: Sandro (ex). Keila (me) e Ita (flor).

E claro, uma das muitas ruas inclinadas da cidade histórica, Ouro Preto.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Descanso x Produtividade



O descanso é uma necessidade vital para nós - seres humanos. Sendo fundamental para a preservação da saúde, como a alimentação, os exercícios físicos e horas suficientes de sono.

No entanto, a forma como cada indivíduo descansa é única: alguns descansam simplesmente dormindo; outros olhando uma paisagem; outros lendo livro, outros, mais ativos, inventam formas mais complicadas de descansar praticando esportes radicais.

Nesse sentido, podemos entender que, o descanso, na verdade, é algo que toca profundamente nosso desejo de felicidade e de bem-estar.

Porém, habitamos um mundo governado pela ideia de produtividade e, portanto, poucos são aqueles que realmente conseguem descansar.

Entre os entraves, encontra-se a falta de tempo, contudo, nem sempre é o que predomina. Pois mesmo em momentos de calmaria estamos tão condicionados as atividades produtivas que, nosso corpo pode estar parado, mas a mente permanece tão agitada, e assim, nem ela, e nem o corpo irão descansar.

Aliás, dentro dessa ideia de produtividade - tão difundida em nossa era -, as cobranças atuam juntamente. Portanto, enquanto deveríamos estar aproveitando momentos únicos de reposição das forças fisicas e mentais não o somos capazes.

Infelizmente, posso me situar nesse contexto. Tenho dificuldades para dormir devido a agitação. Não consigo curtir um fim de semana na inércia, pois me sinto mal em estar parada. E nos momentos de tentativa de descanso sinto-me presa acobrança de produtividade. Fazer, fazer e fazer.

Enfim, gostaria muito que de alguma forma fosse possível distanciar minha mente do meu corpo. Ou seja, afastar-me dessa falsa necessidade de fazer e não apenas ser. E embora eu acredite que a inércia pode ser produtiva, na práxis não alcanço. E o que tanto almejo - a liberdade -, torna-se cada vez mais distante.

Dentro desse universo, é importante lembrar que possuímos, dentro de nós mesmos todos os recursos para manter nossa saúde em equilíbrio. O que nós não temos é descanso, que é um fator extremamente necessário para que nosso organismo, por si próprio, realize seu trabalho e busque o equilíbrio.

Concluo então que, nem o direito ao descanso possuimos. Uma vez que a ideia da necessidade de produtividade está instalada e sendo efetivada a cada dia.

Nesse sentido, por sentir-me cansada constantemente - já que não sou capaz de me permitir o descanso -, o sentir não é tão bem vindo. Pois o papel do descanso não é cumprido.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ela, Menina-mulher




Ela, menina-mulher, dona de tantos quereres e sentires, acabara de descobrir que fora enganada por anos.

Naquele instante, em sua mente, surgiam fleches de sua vida. Dos homens que por ela passara. Daqueles que nem adentraram. E dos que ainda permanecem.

A agonia em seu peito não era apenas regida pelo engano, mas por este ser íntimo. Tão próximo, que encontrava-se alojado em seu peito. Marcado. Tatuado.

No decorrer de sua vida, menina-mulher acreditara em algo que denominava por amor – aquela coisa dolorosa; desgastante; sufocante -, mas agora, tudo aquilo em que acreditara não o era.

E assim, a dor do engano, mesclava com o prazer do descobrimento de um novo mundo. Que anunciava esperanças e novas perguntas. Afinal, se o que pensava ser amor não o era, o que seria o amor?

Antes, menina-mulher questionava o que era o contrário do amor. Em sua mente incrivelmente paradoxal. Confusa. Pensava qual sentimento se enquadraria a isto. Seria o desamor?

Mas agora teria que enfrentar outras perguntas. Outros quereres.

Seus sonhos de menina eram singelos. Alegrias matinais. Doces após o almoço. Sorvete ao domingo. E ao sábado, ir à praça brincar na gangorra.

Enquanto mulher desejava amar e ser amada. Apenas isso.

De repente, a constatação de tudo o que estava acontecendo, causou-lhe arrepios.

Sim, seu engano vinha de si. Dos seus próprios olhos. Ouvidos. Das peles já tocadas. Dos lábios beijados. Dos sonhos compartilhados. E de tudo que fora perdido. Desconstruído.

Embora não soubesse dizer se havia nascido daquele primeiro beijo dado às escondidas, menina-mulher tinha certeza de algo, independente do engano, entregara-se completamente. Em cada momento. Cada sensação. Ela era inteira. Cheia ou vazia, porém, jamais metade.

No entanto, ao refletir, lembrou-se do momento exato onde ocorreram certas mudanças. O início de círculos infinitos de idas e vindas. E se há algo que ela conhecia muito bem, era a viagem do ir e vir. Isso desde criança. Na gangorra da pracinha.

Certa vez, já mulher, acreditou estar acostumada a elas. Mais um engano. Porém, foram tantas viagens e tantos amores perdidos. Que acabou acreditando que tudo isso era parte da vida. Do desafio de viver.

Até hoje Menina-mulher costuma olhar o céu, brincar com as nuvens. Fotografando-as com os olhos. E ao mirar para os seus – os humanos -, imediatamente realiza um pedido dentro de si: O da alegria completa.

No entanto, devido às viagens e tantos ‘amores’, ela está inundada de marcas. Temores. Dores que quase a sucumbem.

As lágrimas que insistem em escorrer funcionam como sinalizador de que seu pobre coração sangra.

Ela sabe que apesar disso está viva.

E apesar da desesperança que insiste em sua porta, Menina-mulher acredita que o amor está por sua espera. Rondando as portas e janelas que insistentemente ela mantém abertas.

Não se lembra mais do engano. Da perda. Mas a dor bate em sua porta...

É domingo, ela está sozinha, ao dar um passo à frente se depara com um espelho, seu peito queima, lágrimas escorrem por seu colo.

Mas ela está ali. E é sua própria imagem.

Ela, Menina-mulher.


“Um domingo de tarde sozinha em casa dobrei-me em dois para a frente - como em dores de parto - e vi que a menina em mim estava morrendo. Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias. E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro de mim. "


Clarice Lispector

Da janela

Gosto de casa cheia. Risos atravessando as paredes. Talheres sendo ouvidos entre uma palavra e outra. Massas e vinhos compartilhados. Mas há momentos - ultimamente vários -, em que prefiro casa vazia. Abrir janela e fechar cortina. Andar nua pela casa. Cozinhar só para mim. Ouvir Chico dizendo: "...Chega perto. Vem sem medo. Chega mais meu coração. Vem ouvir esse segredo. Escondido num choro-canção... " Nesses momentos há um silêncio necessário. O silêncio da rua. Das pessoas. De mim. Os ruidos diários me cansam. Pessoas que mal respiram ao falar. E permitir o silêncio, é algo que não acontece constantemente. Mas eu me permito. E percebo que nem sempre o silêncio é oco. Vazio. Ele me permite ouvir-me mais atentamente. Sentir-me. Permite prazeres como não apenas ouvir Chico, mas senti-lo.



















O relógio bate insistindo no tempo.

Ele é o único que está aqui dentro - o tempo.

Olho para as portas e janelas e estas ainda encontram-se abertas, mas você não chega.

As teias de aranha me lembram que o tempo escorre. Passa. Esvai-se.

A pigmentação gasta das portas e das janelas mostram que a esperança está desgastada.

Mas este mesmo tempo já não é mais contabilizado.

Pois a tanto que te espero.


Certa vez pensei ter encontrado-te nos olhos de um transeunte, mas não o era.


Quero tanto que entres e chegues sem reserva, que as vezes sinto que o tamanho do querer é que o impede.

Da janela vejo o tempo. Ele também está lá fora. Nas nuvens que passam. No sol que nasce e se põe. No céu e suas estrelas. No sol que me aquece no lugar do teu abraço.


Eu te espero.

E te quero.

Por favor, entre.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O vazio




Recentemente, tenho tido o prazer de participar gratuitamente de um curso de extensão que aborda a psicopatologia.
O curso destina-se principalmente aos psiquiatras e psicólogos em formação - público em grande maioria.
Contando com palestrantes psiquiatras e psicólogos que desenvolveram seu mestrado e doutorado em filosofia, por meio deles tenho observado uma outra forma de abordar a saúde mental.
Forma esta que se apresenta muito mais do social - trabalhado tanto pelos assistente sociais e sociólogos -, do que da própria psique.
Nesse sentido, estes, até o momento, interagiram o social com a phatos - palavra grega que possue vários significados, entre eles, dois conceitos bastante diferentes: o passional, a paixão a passividade; e o patológico, a doença, presente no diagnóstico médico.

No entanto, meu interesse aqui não é discorrer sobre o todo que tenho visto, até porque, por mais que goste do tema, não sou profissional nessa área e, portanto, não possuo qualificação científica para apresentar algo de cunho epistêmico.

Mas, como últimamente tenho postado muito sobre minha preferência em sentir. Sangrar. Compartilho o que constatei em ambos os preletores - até agora dois.

Ambos psiquiatras e defensores da psicopatologia, questionam a fulga da humanidade em sentir. E argumentam que, o não sentir é deixar de ser. Ou seja, os remédios utilizados em tratamento psiquiatrico podem nos permitir o não sentir - desespero e dor. Contudo, isso pode ter efeitos devastadores nos deixando ocos, vazios, afastando outros sentires, nos distanciando de nosso próprio ser.

Ouvir isso, trouxe-me alívio e tensão. Alívio, por já defender essa tese. E tensão, em pensar que a grande maioria de nós foge por meio de remédios e outros artifícios. Além disso, temos péssimos profissionais atuando nessas área, que impossibilitam o indivíduo de uma oportunidade diferente.

Habitando o contexto que paradoxalmente nos afasta do auto-conhecimento verdadeiro e que ao mesmo tempo prega a individualidade que, mais se aproxima de uma individualidade de consumo, gostaria de saber qual é o nosso futuro enquanto humanos que não podem sentir e que devem se apresentar ocos, heróicos e não de carne, osso e coração...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A gangorra



Com você vivi um amor intenso. As vezes torturante. Era como estar numa gangorra. Sendo jogada para o alto, depois por terra, de forma que todas as partes internas mais sensíveis se danificavam e quebravam. Até descobrir que há coisas na vida pior do que estar sozinha.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Diferentes ou iguais


Qualquer temática que trabalhe a questão dos judeus - desde sua gênese -, instiga em mim grande curiosidade. Portanto, quando posso juntar o prazer pelos filmes, tendo a oportunidade de visualizar um roteiro que aborde este tema, sinto-me imensamente gratificada. Recentemente, tenho acompanhado a Mostra do diretor Otto Preminger. Me identificando com algumas, como o drama "Bom dia, tristeza" e me realizando com outras, como "Exodus". Otto Preminger é responsável por grandes clássicos do cinema, e pelo que percebi, seus filmes apresentam diversas temáticas que, inclusive, chegam a ser polêmicas. No entanto, foi em Exodus, drama épico de 1960 que o austriaco ganhou meu coração. Para inicio de conversa, o filme conta com a trilha sonora - ganhadora do oscar -, de Ernest Gold e a presença do astro Paul Newman. E mesmo sendo um longa de 208 minutos é impossível piscar os olhos no decorrer da apresentação. Inspirado no livro de Leon Uris, considerado um "best seller", Exodus relata a história sobre a resistência israelense pós 2ª guerra mundial, narrando a luta desses pela independência israelense. Em geral, teria dificuldades para descrever o que mais me agrada nesse tipo de filme: O fato de ser épico, sua trilha sonora, roteiro que retrata os judeus, Paul Newman... Mas não. Sei exatamente o que mais me encantou e tem me feito refletir até este instante. Surgiu em um dos diálogos entre Ari Ben Canaan (Paul Newman) e Kitty Fremont (Eva Marie Saint) quando Ari diz que todos somos diferentes, queremos ser diferentes e, portanto, também queremos ser respeitados pela diferença. Ao ouvir isso, Kitty retruca e diz que na realidade todos somos iguais, apenas não enxergamos isso. Ao vislumbrar essa questão no filme, tema trabalhado por tantas disciplinas das ciências humanas fiquei surpreendida, pois assim como Ari, acredito que somos parecidos, mas não iguais. Sendo assim, somos diferentes e gostamos de ser diferentes, ainda mais no mundo globalizado, da supervalorização da individualização, portanto, o cerne da questão é o respeito pelas diferenças, uma vez que todos somos diferentes. Tema que irei discorrer melhor no desenvolvimento do meu mestrado, ainda sinto a pergunta batendo na porta. Afinal, será que somos iguais ou diferentes?

lúcidez e miopia



Enquanto seres humanos a grande maioria de nós possui uma visão limitada em relação a si, ao outro, a vida, a morte. Enfim, ao mundo no qual estamos inseridos e tentamos o tempo inteiro ser parte.

Ao falar da maldade humana, do senso de justiça ou de qualquer fato em que nos colocamos como protagonistas de uma história, no caso a nossa própria ou, a de nossa espécie, devemos levar em conta essa limitação.

No entanto, assim como há aqueles de visão míope também há aqueles que tudo vêem, e por isso mesmo sentem-se cada vez menos parte dessa sociedade - o que me faz lembrar de Nietzche, um homem que nasceu em uma epóca da qual não se sentia parte. Que foi mal interpretado e até hoje o é.

Dentro disso, podemos dizer que há uma massa, assim como há os desviantes, ou seja, pessoas que não simplesmente reproduzem, mas são agentes de mudança e pensam por si.

Nesse sentido, quando demonstro minha indignação com a minha espécie não deixo de lembrar que há as excessões. E esse exercício da mente - ao lembrar -, é exatamente o que gera em mim esperanças.

Bem, ontem, conversando com uma amiga sobre esta questão, nos lembramos de uma passagem no livro "Os irmãos Karamazov" de Dostoiévski quando um dos personagens argumenta sua contradição em relação a humanidade - o que aproxima-se muito do que eu sinto.

O mesmo argumenta que, apesar de amar tanto a humanidade, atuando em sua defesa não é capaz de demonstrar esse amor aos que encontram-se dentro de sua casa.

No meu caso, mesmo amando a humanidade, admirando suas singularidades, nem sempre sinto somente isso por ela. Isto é, amo, aprecio, mas também desgosto.

Porém, minha lúcidez me diz constantemente que, seres humanos são mais importantes do que coisas, manias, valores, ou qualquer outro item. E, portanto, viver nesse eterno conflito de uma visão lúcida, porém limitada em alguns pontos, causa dores. Sangra.

Acredito que, ter consicência do paradoxo humano em ser insignificante diante de um universo tão incrível, mas ser dotado de tanta magnitude e poder é uma das maiores dores da humanidade lúcida.

Inclusive, a minha.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Civilização - Parte 1

"A civilização elabora no homem apenas a multiplicidade de sensações e...absolutamente mais nada. E, através do desenvolvimento dessa multiplcidade de sensaçõs, o homem talvez chegue ao ponto de encontrar prazer em derramar sangue." Dostoiévski [Do livro: Memórios do subsolo - o que mais diz a mim, aquele que parece ter sido desenvolvido lado a lado]

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A viagem



Num susto repentino me vi permeada de desejos de ir.

Simplesmente sucumbir.

E a sensação que vem ao deparar-me no espelho é de puro definhamento.

A existência não mais me apraz.

Nada acalenta meu coração que geme.

E meus olhos que choram.

Mas o que está acontecendo?

Será o simples fato de sentir?

De ser humana?

Os sonhos escorreram pelo ralo. Os ideais se ocultaram.

Não amo. Não vivo. Mas ainda sinto.

Será que apenas existo?

A consciência, a razão e a lógica estão me torturando.

Será o pensar mais doloroso do que o sentir?

Novamente, desejos insistentes de ir.

E o espelho teima em dizer-me: Não sou forte. Não sou boa.

Ao ouvi-lo, grito por socorro. Mas quem poderá salvar-me de mim mesma?

Da imensurável descrença total?

Nesse momento, recuo e não vou.

Com muitas dificuldade teimo em não ceder, esperando que o desejo vá sozinho.

Com as forças que me restam, esforço-me a abrir caminho em minha mente e em meu coração, obrigando-os a lembrarem das possibilidades – mesmo que não sejam vistas e percebidas -, de esperança.

Esperança de que haja outro dia. Outros sonhos. Outros amores. Outros risos. Outras pessoas. Outros tempos. Outras coisas. Outra vida. Um outro amanhã.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Diálogos com o amor



Estranhamente, mesmo não gostando de raizes, ainda prefiro o amor.

E este, cria raízes.

Ao sentí-lo, ficamos dependentes dele, o que pode ser bom ou não.

Mas não importa, pois sinto-me viva ao amar.








O amor não dói.

Mas e amar?

Sofre quem ama.

"É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e amar, e mais amar, depois de ter amado."

"Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele."

"Tão bom morrer de amor e continuar vivendo".





Nada é pequeno no amor, exceto os humanos.

E por isso, "o amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano a perfeição..."




O amor não tem medida.

"É um amor pobre aquele que se pode medir".




Nem sempre amar é fácil. Aliás, quase nunca.

"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter ido carinho, pensei que amar é fácil."




Amar é viver mudando de casa. Transitando entre o eu e o ele.

"O amor é quando a gente mora um no outro".



















Ontem, andando pelas esquinas da vida, encontrei-me com o amor.

De forma leve e descontraída aproximou-se de mim.

Alegremente abraçou-me - como se abraça a um ente querido que não encontramos a muito tempo -, e sussurrando em meus ouvidos fez uma confissão: Sinto um frio na barriga quando estou próximo a você.

Ainda abraçada a ele, contei-lhe meus desamores. Minhas dores. Minhas desesperanças.

Ele pacientemente ouviu a todas, e após ouvir-me, pegou minhas delicadas mãos e beijando-as disse-me: Não sou perfeito. Mas farei de tudo para acertar e estar sempre bem com você. Quero fazer-me sentido em cada caminhada sua. Pois estou presente em todas elas.

Eu, de cabeça baixa, enquanto o ouvia lembrava-me da dor. Expectativas. Sonhos. Do coração ainda preenchido pelos fantasmas...

Após um minuto de silêncio, confessei-lhe sentimentos. Não podia amá-lo. Não era capaz. Meu coração, permeado de poderes, governava sobre mim e, não me permitia amá-lo.

Imeditamente seus olhos inundaram de lágrimas. Gota a gota. Transformando-se em rios.

Ainda enxugando as lágrimas e olhando-me nos olhos o amor disse: Compreendo. Permitirei que o meu amigo tempo exerça sua função. Mas estarei por aqui, não se esqueça. E entrarei somente quando estiver pronta.

Talvez eu apareça em outro corpo. Outro sorriso. Outro abraço. Porém, minhas promessas permanecerão a cada passo seu.

E em cada abraço, sorriso, sonho, alegria, dores e lágrimas estarei presente, mesmo que não seja percebido. Sentido.

Como disse-lhe, te acompanharei em cada rua, esquina e encruzilhada da vida. Somente por amar-te.

Ao encerrar sua fala, rapidamente despedi-me, e continuei meu caminho.

Por curiosidade, olhei para trás, e lá estava ele, velando-me.

Estranho esse tal de amor.

Cheio de promessas.

Tão sentimental. Emotivo.

Penso que jamais o encontrarei novamente.

Mas vez ou outra, lembro-me de suas falas e sinto um calor no peito...

terça-feira, 5 de abril de 2011

A tristeza

Porque hoje a dor está presente no olhar. No respirar... E o sentir, faz-se tão presente que todas as dores tornaram-se em uma única. Mas o medo, não é o sentir. É deixar de ser.
"E a escuridão se torna tão maior. Estou caindo numa tristeza sem dor. Não é mau. Faz parte. Amanhã provavelmente terei alguma alegria, também sem grande êxtases, só alegria, e isso também não é mau. É, mas não estou gostando muito desse pacto com a mediocridade de viver." Clarice Lispector

"É preciso ter tristeza. Tristeza não é ruim. Quase todo mudo só que escutar musiquinhas alegres, ir dançar em lugares barulhentos, ficar falando o tempo inteiro. Porque eles tem medo da tristeza. Mas não é a tristeza que mata."

Fernanda Young

"Ah! A imensa alegria de não precisar estar alegre..." Fernando Pessoa

"Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E utras pessoas. E outras coisas..." Clarice Lispector
[ O vídeo refere-se ao meu filme predileto, O Fabuloso destino de Amelie Poulain]

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O mesmo e o novo


Quem dera eu ser capaz de colocar nessas linhas o que se encontra alojado em meu peito. O que meus olhos viram. O que meus sentidos captaram. O que minha mente tem tentado absorver. Compreender...


Tudo aquilo se tem sido sentido nesse últimos 5 dias.


Do amor que por nós foi transformado em rancor. Do rancor que transformou-se em indiferença.


Dos sonhos de uma simples manhã de sexta-feira, recebido de muito bom grado pelos meus olhos e todos os sentidos. Das expectativas em relação a essa visão colorida.


Do amor que não sou capaz de corresponder.


Dos presentes que alegraram tanto meu coração ao longo desse fim de semana - Livro da Amelie Poulan, mesmo escrito em italiano e não em francês; os desenhos orientais feitos a mão e que farão parte da decoração da minha sala; o livro Orientalismo de Edward Said (tão desejado).


Da capacidade de dizer não várias vezes com segurança, respeitando quem eu sou. Permitindo sentir-me eu. Segura. Madura.


Quem dera eu ser capaz de descrever todos esses ocorridos de forma poética. Mas não. Meu coração não o sente dessa forma, e, portanto, seja por isso que nesse instante a multidão de pensamento em relação a tudo isso, aproxima-se muito mais de uma bola de neve do que quadradinhos.


Mas ainda teve Bridget Jones no limite da razão. Uma segunda chance ao amor. Grease (No tempos da brilhantina). Música francesa. O discurso do rei. A rainha. Lágrimas. Dores. Morte e Vida.


E o amor?


Bem, este foi citado em um trailler de filme que me fez lembrar novamente de você. Mas eu já o tinha na mente e no coração desde sexta, pois em cada segundo lembrava-me do nosso desencontro na sexta. Do seu olhar doce, mas rancoroso. Da sua indiferença.


Porém, se quinta o dia estava iluminado. Quente. Alegre. E mesmo assim a tristeza surgiu. Entre escolhas. Saudades. Dúvidas. Espaços. Vazios.


Sexta tinha tudo para o sol novamente sorrir para mim. E ele o fez. Eu pude ver o seu olhar me adentrando. Esquentando-me. Paulatinamente alegrando-me. Sorrindo para mim. Mudando minha rotina. Apenas para ver-me. Mas hoje esperei novamente por ele. E ele não chegou. Será que foi apenas um sonho?


Minha curiosidade e expectativas serão capazes de buscar essa resposta.


Enquanto isso. Entre bolas de neve. Sonhos. Ele - o sol. E você.


Escolho a ele.


Enquanto ele não chega...continuo com a rotina nova, até que ele novamente me encontre.


[ a música veio das minhas andanças pelo infinito particular do fofo do Rafa - Blog Tanta Coisa! -]

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ditadura e o Movimento Estudantil







Hoje, primeiro de abril, o Golpe Militar de 1964 completa 47 anos.


Ao acreditar que muitos blogs irão discorrer sobre esta trajetória, pretendo fazer uma observação suscinta, mas de suma importância.
Ao trazer como discussão a ditadura militar, deve-se ter em mente a importância dos movimentos socias dentro desse contexto. Entre eles, o Movimento Estudantil ganha um grande destaque.

Se atualmente, percebemos um Movimento Estudantil frágil e sem bandeiras de lutas, atrelado às coligações partidárias, desligando-se cada vez mais do foco inicial; lutas sociais relacionadas aos direitos da sociedade e do estudante em si, deve-se levar em conta que por muito tempo o Movimento Estudantil foi sinônimo de credibilidade e de respeito, graças às inúmeras pessoas que lutaram ao longo do tempo - principalmente no período militar -, para que os estudantes tivessem melhores condições de estudo e liberdade de expressão. Além de defender os direitos de todos os cidadãos.


Como citado a cima o Movimento Estudantil esteve presente nos principais momentos da história.

Na era Vargas, a partir da Revolução de 1930, a politização do ambiente nacional levou os estudantes a tomarem parte na Revolução Constitucionalista de São Paulo, formar organizações como a Juventude Comunista e a Juventude Integralista. Dentro deste universo, surge a União Nacional dos Estudantes (UNE), maior entidade estudantil nacional que representa os estudantes no âmbito nacional.


Na década de 40, percebe-se que o Movimento Estudantil engaja-se na luta contra nazi-fascismo, especificamente no período de 1947 a 1950 a UNE liderou campanhas nacionais; contra a alta do custo de vida, em prol da indústria siderúrgica nacional e do monopólio estatal do petróleo (campanha O Petróleo É Nosso).


Atuou na entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, mas pode-se observar sua participação com grande impacto em dois momentos; em manifestações contra a ditadura nas “diretas já” e sucessivamente, em uma das mais memoráveis conquistas, o Impeachment do então Presidente da república, Fernando Collor de Melo.

No entanto, foi nas décadas de 1960 e 70 que o Movimento Estudantil universitário brasileiro, mobilizou-se mais expressivamente, participando ativamente da vida política do país. Este, com suas manifestações e protestos influenciou significativamente a vida política nacional.

A introdução dos pensamentos de Marx surtiram nos novos estudantes - advindos da expansão das universidades -, o ideal de novos projetos sócio-econômicos. Essas correntes esquerdistas buscavam ter sua voz ativa por meio das mobilizações. E uma de suas maiores conquistas ocorreu em meiados da década de 60, por meio da "Reforma da Universidade".


O golpe de 64 teve forte impacto no Movimento Estudantil, e através de ondas de repressões os estudantes se integravam cada vez mais ao movimento, tendo como bandeira de luta a queda do militarismo.


No início da década de 70 o movimento se encontrou menos ativo, retomando ativamente suas manifestações somente em 1977, quando vários estudantes foram para as ruas reinvindicando liberdade democrática, o fim das prisões e tortura e anistia ampla.


Já nos anos 90, em apoio ao movimento contrário ao governo de Collor os "caras pintadas" foram novamente as ruas em busca de respostas e reinvindicando a queda do então presidente.


Ironicamente, em nosso momento histórico, abre-se várias críticas a esse movimento. Contudo, sua legitimação ainda é presente. Fato este que foi estabelecido por meio de sua participação na ditadura militar. E, portanto, ao falor em ditadura, deve-se por obrigatoriedade falar-se em Movimento Estudantil.
Sendo assim, nesta data, lembramo-nos do golpe de 64 e da participação estudantil frente as demandas do país. Compreendendo seu valor. Assim como suas falhas atuais.



[o texto acima é um fragmento de duas pesquisas realizadas no decorrer na minha trajetória no Movimento Estudantil, desde o ensino médio até a universidade, enquanto membro do Grêmio Estudantil e do Diretório Acadêmico (D.A.).]