Atitude do Pensar

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dor de ser

A QUEM INTERESSAR POSSA


"Causa Nobre" se foi, Edward Said permanece juntamente de C.S. Lewis - estes são daqueles que deve-se ler bem devagarzinho. Ler. Reler. Marcar. Voltar. Parar. Recomeçar.
Junto à eles encontra-se Caio Fernando Abreu, "inventário do ir-remediável" - a primeira obra publicada pelo autor e a primeira dele que leio.
Fui instigada a lê-lo por meio de vários blogs. Conhecia algumas citações dele, havia assistido algumas entrevistas, mas nossa aproximidade ainda não havia acontecido.
Semana passada baixei vários livros dele, mas lendo o próprio comentário do autor, iniciei um processo de reflexões acerca do remediável e ir-remediável.
Agora, eis-me aqui, degustando do saber C.F.A.
No momento, não falarei muito sobre a obra, apenas deixo um fragmento de um dos contos:

"...nunca antes uma coisa nem ninguém me doeu tanto como eu mesmo me dôo agora mas ao menos esse agora eu quero ser como eu sou e como nunca fui e nunca seria se continuasse..."

DO MEDO DE NÃO SER

Recentemente tive alguns atritos no ambiente de trabalho que causaram em mim uma dor que sangra até esse instante.
Não sou das mais comunicativas e nem me uno a grupinhos para desenvolver conversas sobre homens, roupas e a vida como geralmente é observada.
Fico mais reservada nos meus momentos de intervalo, mas quando solicitada faço questão de ser prestativa e gentil.
Trago pastel e pão de queijo - coisa bem mineira -, quando as vacas estão mais gordas, ensino o serviço, ajudo nos procedimentos que não são do meu setor.
Enfim, por ser uma das adeptas da boa gentileza faço questão de agir assim em qualquer lugar.
No entanto, fui taxada de folgada, e isso, pelo fato de uma vez ou outra pedir que alguém traga um pão do refeitório para mim. Momentos como quando chego atrasada e quando recebo visita. Ou seja, momentos em que sair de onde estou é impossível.
O fato é que essa situação desencadeou dores mais profundas do que imaginava, pois como fiquei extremamente machucada, passei a tratar as pessoas de maneira indiferente. Porém, o mais doloroso desse ocorrido, foi deixar de ser quem sou - gentil.
Após um mês a dor foi diminuindo e mesmo que ela ainda se faça presente, voltei a ser eu. Puxando ligações quando a menina da recepção está atolada de serviço, ensinando coisas que eles não o sabem. Oferecendo uma coisa aqui e outra ali. Não evito ou rejeito a dor, simplesmente não permito que ela - a dor da mágoa - seja maior do que a dor de deixar de ser quem sou.
E esta é uma das minhas maiores lutas: A briga diária com um mundo que me impede de ser o que sou, tentando moldar-me segundo suas expectativas.

"Não ser ninguém além de si mesmo num mundo que dia e noite dá o seu melhor para transformá-lo em outra pessoa significa lutar a mais dura das batalhas que um ser humano pode enfrentar, e que nunca deixa de lutar". E.E. Cummings

GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE



Sábado acordei toda oriçada, tinha sonhado com Paul Newman em plena juventude - pouparei a todos dos detalhes do sonho. Mas fiquei tão inspirada que no domingo assisti o filme "Gata em teto de zinco quente", estrelado por ele - Paul Newman -, a saudosa Elizabeth Taylor e Burl Ives. O filme possui uma cena que cabe muito no contexto dessa postagem, em uma das cenas "o velho", interpretado por Burl Ives que sofre de fortes dores físicas e em sua alma, diz preferir a dor, pois esta mostra a realidade - sua humanidade.


Isso traz um impacto muito forte, pois seu personagem é um homem forte e que trata a todos de forma dura. Todavia, nesse momento de dor ele se percebe enquanto humano e, apesar de todos os contras escolhe sua frágil humanidade.
Esse tipo de filme a gente nem precisa indicar. É um filme que fala por si só.
Fiquei sabendo que o livro no qual a obra é inspirada apresenta o papel feito por Paul Newman de maneira diferente: um cara que ainda não tem sua sexualidade definida.


Fica aí uma sugestão para um remake fiel a obra literária.

12 comentários:

  1. Bom dia, querida amiga.

    Sobre o Caio Fernando Abreu, eu tenho lido tantos fragmentos lindos, que também quero ler livros dele.
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    Injustiça dói de qualquer jeito, mas no trabalho faz-se necessário uma mudança de atitude, ainda que breve, para que caia a "ficha", e cada um tenha a oportunidade de rever suas atitudes, e assim, procurar melhorar.
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    Sonhar com o Paul Newman, deve ter sido um bálsamo, para o seu dia.

    Eu assisti esse filme e adorei. A beleza da dupla é um colírio para os olhos.

    Um grande abraço.
    Tenha uma linda semana de paz e alegrias.

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  2. Oi querida keila, respondi sua pergunta, na no blog, passa lá!
    assim que tiver + tempo eu volto para comentar sua postagem, pois adoro ler seus textos!
    beijinhos colloridos

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  3. Sabe a história de deixar que a mágoa ou o rancor nos transforme em gente que não somos?
    Pois é, passei por isso esses ultimos meses e sei o quanto é difícil afogar tudo isso, deixar a mágoa secar pra que o nosso íntimo nao se modifique em algo que nem sabemos lidar.
    É tão sufocante se ver em situaçoes que voce nao sabe como agir, se é aquela que vc sempre foi ou se é aquela que vc pensa que se tornou por tanta mágoa acumulada!
    O bom é que com o tempo, se voce for forte, todo o sentimento fraco desaparece. =D
    Um beijoo

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  4. é duro ser mal interpretada, é duro ter que deixar de ser você mesma.
    ultimamente eu ando meio decepcionada com algumas pessoas, e deixar de ser você mesma as vezes como forma de escudo, ainda assim dói.

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  5. Amelie, eu conheci o caio através dos blogs e desde então, não larguei mais. Casamos haha

    Beijos

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  6. Keila ,
    descobri há pouco Caio Fernando de Abreu e amei .
    [ o que não é difícil , pois há muita coisa que gosto do seu País , desde poesia , música , alguma pintura ... a vossa maneira de ser mais comunicativa ... ]

    Quanto ao pagar a factura por ser eu ... pago claro .

    E finalmente esse belo filme . Não sei se ele aí é passado na integra , porque aqui , ainda que de leve , insinuam essa dita indefinição sexual da personagem / Paul Newman

    Beijo ,
    Maria

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  7. olá querida, que bom que gostou do meu post.
    quanto ao seu, depois de algumas "tempestades" eu me vi mudando por que as pessoas me obrigavam a mudar, e isso estava me doendo de certa forma, depois de refletir e rever meus conceitos, eu vi que não quero e nem aceito mudar, por outros, não vou deixar meu carater de lado, por outros, então mesmo sendo difícil seguirei sendo assim!
    beijinhos colloridos

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  8. Eu amo tanto esse filme. mas isso voc~e já sabia, né? Porque eu amo tanto esses dois, affe. E o Caio, ulalá...gosto especialmente de Morangos Mofados, nem sei direito porque, só sei que sangra e arde. E sei tanto o que é sentir falta da nossa própria gentileza...bjs, baby, beijos

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  9. Amapola, querida.
    Sua presença aqui é sempre tão boa. Agradeço pelos seus comentários.
    C.F.A. tem sido um ótimo alimento.
    A pior injustiça deve ser aquele que vem dos que são queridos por nós.
    O sonho e o filme, perfeitos!!!
    Bjus

    Vanessa, tem sido uma viagem de fora pra dentro e dentro pra fora lê-lo - C.F.A.

    Fabby, realmente ele não tem nada a ver com o estúdio.
    É tão complicado esta questão de mudar, adaptar. Já possuimos um inimigo íntimo, um eu que insiste em nos mostrar uma visão míope ao nosso respeito e ainda temos o outro - vizinho, colega d etrabalho, de faculdade e afins -, que insiste em nos adaptar a um padrão social.
    Também prezo pelo meu caráter, mesmo que não seja perfeito. Mas nos moldar por uma situação injusta é muito pior do que mudar para sermos uma pessoa melhor.
    Beijin, flor

    Nanda, a mágoa tem ido, paulatinamente. Mas vez ou outra me eparo com ela e isso dói, principalmente no fato de imediatamente mudar de reação.
    Obrigada pelo comentário.
    Bj

    Long Haired, detesto máscaras e sorrisos de plástico. Detesto situações que me permitem ser. Dtesto ser mal interpretada, mas isso é tão frequente - por algumas pessoas - que o melhor é ter certeza de quem sou e isso basta.

    Cris, eu que me sinto MUITO feliz por você estar aqui e eu lá. Por lá é tudo tão refinado e cheio de sentires que impossível não estar.
    Minha paixão pela literatura vem de berço - e como isso é importante -, foi mami que desde os 6 anos me dava milhões de livros de presente -,e além disso havia os que ela lia, então tinha literatura infantil e adulta.
    Na escola, meu lugar favorito era a biblioteca - ser introspectiva tem suas vantagens.
    Espero que goste do filme, se bem que acho quase impossível não gostar. Ele é completo.
    Interessante o roteiro desse livro, há um do Aldous Huxley chamado Os demônios d eLoundon, conta a história d eum padre que é acusado injustamente de feitiçaria - baseado em fatos reais. É o meu livro favorito.
    Sabe, penso que o mais importante não é entender, mas respeitar. Portanto jamais peço entendimento, mas sim respeito pela diferença.
    Bjin

    Maria, então é recípocro. Um bom exemplo é a nossa veneração pelos vinhos - o óbvio -, e as cordas - violão.
    Penso que, infelizmente não recebemos tanta informação do universo cultural de Portugual. Tenho um amigo que morou em Portugal 10 anos e quando éramos mais próximos me contava de suas andanças.
    Assim como tenho um amigão que foi para sua terra trabalhar cantando na noite.
    Quanto ao filme, tenho o DVD que fora comprado, e realmente deixa subentendido, porém, segundo as críticas literárias do livro que serviu de inspiração ao filme, isso se apresentava de forma clara.
    Bjin

    Lu, é impossível não pensar em você vendo esses dois.
    Permanece em mim o desejo de assistir todos os que foram indicados por você em uma postagem mais antiga.
    Estava querendo ler Mel e Girassóis, mas fiquei curiosa com Morangos Mofados. Eu o lerei quando o sangue aqui estiver estancado.
    É um sentir falta do nosso ser...esse danado de impostor que vive em nós...rsrs
    Bjus

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  10. Linda, sabe de uma coisa que percebi há uns tempos??? Que sempre temos que nos moldar às pessoas que estão do nosso lado, porém eles nunca se moldam ao nosso...

    Só o fato de sairmos do padrão dito como 'normal', para que as pessoas comecem a olhar diferente e até nos chamarem de folgada ou interesseira...

    Nesse caso, sou muito anti social aqui no serviço... Não falo muito com ninguém e sempre prefiro almoçar em um horário que vão poucas pessoas ao refeitório... Até prefiro almoçar sozinha... Sei que não é o meu normal, porém já ocorreu fofocas sobre a minha orientação sexual (não digo fofocas 'de disse que me disse', mas coisas pesadas mesmo - e outra, não sou preconceituosa, respeito demais os homossexuais, porém minha vida pessoal não diz respeito a ninguém, se sou ou não sou, é um problema meu!!!), e passei a desconfiar de tudo e de todos, infelizmente!!!

    Nesse caso, não estou sendo eu mesma aqui no ambiente de trabalho... Poderia ser muito melhor, mas a infantilidade das pessoas aqui são demais...

    (Respiração funda...)

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  11. Suzi, acredita que só vi seu comentário hoje?
    Mas creio que veio em um boa hora, pois ando me sentindo cada vez mais distante desse mundo.
    Um beijo

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