Atitude do Pensar

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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Democracia elitizada



As aulas de teoria política ficaram registradas em minha memória pelos pensadores, pela professora, pelo momento, pelas discussões. E as fotografias mentais, lembram-me de um tempo onde eu era capaz de ler os textos propostos, além de vários outros (hoje eu tenho que escolher entre um ou outro), levando para sala de aula discussões e construções acerca dos direitos, do acesso e da democracia. Sobre esses dois últimos, reflito constantemente, mas nesse instante tenho pensado principalmente a respeito da democracia.

Perspassando desde sua gênese, com os gregos e o governo do povo (onde mesmo existindo a discussão da democracia, havia exclusão de negros, mulheres, crianças e escravos em geral); o Estado Liberal de Direito do século XVIII e a Revolução Industrial (que apresenta o palco de lutas de interesses burgueses e proletários); a Constituição Moderna (marcando os direitos econômicos e sociais) e a Constituição Brasileira de 1824 (sendo substituida até chegarmos a histórica de 1988).

No entanto, compreendo que democracia não se limita somente ao governo, refere-se a tudo que representa o homem político, isto é, ao ser sócio-político. Portanto, entendo que a democracia envolve a participação do povo em todas as esferas e não apenas ao voto. Engloba o gênero, a etnia, às classes sociais, ao individualismo positivo, a identidade, a coletividade e afins. Sendo assim, democracia possui uma relação com a exclusão e o acesso. Com o indivual e o coletivo.

Mas afinal, estamos realmente dispostos a efetivar a democracia em todas as esferas?

Não falo sobre a relação Estado x Sociedade Civil, mas sim, a democracia estabelecida em nosso cotidiano. Os conceitos existentes em nós. Nossas verdades e o resultado delas por meio de nossas ações. Verdades estas, que refletem em outro indivíduo.

E como fica a democracia que representa o direito de todos possuirem seu gosto musical e terem acesso ao meu (que nem é meu, mas pertence a um grupo)?

Do direito de todos possuirem seus próprios sabores e terem acesso ao meu?

Ou será que estamos elitizando nosso conhecimento, nossa cultura, nossos gostos, nossas descobertas?

Não acredito que vivemos a democracia real, mas defendo que ela inicia-se em uma esfera menos abrangente, quase que individualmente, ou seja, em pequenos grupos, pares e internamente.

Reconheço a existência de uma linha tênue entre o individualismo e a democracia. E a dificuldade em saber se possuo ou não o direito de não ser democrática em alguns dos meus contornos. Porém, alguns diriam que reconhecer já é um começo...

12 comentários:

  1. Oi. Tudo blz? Valeu a visita e o comentario. Apareça sempre que quizer. Muito legal aqui. Gostei. Beijos e abraços.

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  2. A democracia é boa até o momento em quem que está no poder começa a se beneficiar de toda essa falta de limites!!!

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  3. Reconhecer é um bom começo mesmo.Ela deve reinar em todas as esferas... Um beijo,tudo de bom,chica

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  4. Democracia é antes de mais nada o uso do bom senso. E issoé um começo para tudo.

    Beijo

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  5. Sócrates, q eu saiba, era um crítico da democracia, salientando o perigo dela se tornar demagogia. O filósofo era a favar da aristocracia; não confundam com oligarquia, por favor.

    Interessante é q na época do chamado socialismo real, os países do leste europeu eram chamados de democracias populares, e o nome da Alemanha oriental era República Democrática Alemã.
    Muito polêmico esse tema.

    Não acredito em democracia, nem em aristocracia e ditadura; fico com meu anarquismo e individualismo, ou seria egoísmo? Comodismo?

    Um ótimo feriadão, Keila!

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  6. Pois é. Sou meio burro, mas quando esse assunto vem à tona, não consigo deixar de me perguntar se voto obrigatório é algo democrático. O que você acha?

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  7. Keila, minha flor.

    O texto é reflexivo mesmo, pra se pensar.

    Mas a resposta do Diego foi uma coisa que falou por mim.
    Democracia é respeitar o direito de cada um.

    Lutamos muito pelas diretas já, por tantas coisas. E conquistamos.

    Mas o voto devia ser da vontade de cada um, jamais uma obrigação!

    Um beijo e um feriado bem bacana!

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  8. Não sei, acho que a democracia é uma ironia, sim, porque reconhece-se o direito do individuo enquanto lei, enquanto palavras numa folha de papel, mas no cotidiano de cada um não há esse mesmo reconhecimento. As pessoas limitam-se a si mesma e nem sempre lembram que eu tenho o direito de não acreditar na mesma coisa que você por exemplo.
    Esses dias andam revoltada com as igrejas evangélicas que fazem atos contrários aos gays. Ok. Elas tem o direito de encontrar uma desculpa (por mais deplorável que seja) contra os gays. Afinal, isso aqui é uma democracia, mas não podem sair por aí cantando contra uma ideologia baseada no deus deles. Ou será que podem?
    Tudo muito complicado. É mais fácil se basear em teorias que em aspectos reais. rs

    bacio

    Ps. Adorei a argumentação.

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  9. Keila ,

    neste momento , estou mais ou menos como a Mafalda , em relação à democracia .
    E digo " mais ou menos " , porque momentos há , que não sei se chore ou ria .

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  10. Acho esse tema bem complexo, e acho também que para vivermos a democracia em sua plenitude ainda falta muita abertura nas pessoas em querer concordar ou nao.

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  11. Olha, no dia em que realmente vivermos em um país democrático, me avise, que eu preciso acordar!!!

    Ainda acho que a espera será longa. Porém, prefiro acreditar que ela um dia chegue!!! Será que a minha geração será beneficiada!!???

    Beijos!

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  12. Obrigada pela visita, Um brasileiro.

    É Marcelo, sua colocação me faz lembrar de George Orwell em A revolução dos bichos. Triste, mas real.

    Chica, mas tenho receio de que fiquemos parados diante do reconhecimento, ou seja, bons pensamentos devem ser processads por meio de boas atitudes.
    Um beijo no coração, querida.

    Blue, simples e profunda a questão do uso do bom senso, lá em casa sempre trago isso para as discussões. Acredito muito no bom senso, pena que na porática nem sempre funciona.

    Roderick, a era Socratica era permeada de contraditoriedade, discutia-se acerca da polítia, mas a liberdade era limitada. Acho que as discussões são totalmente válidas até hoje, mas devem ser questionadas.
    Pra mim, o socialismo real não existiu, o que vimos e ainda enxergamos em Cuba, por exemplo é uma ideia deturpada.
    O anarquismo é válido, desde que seja muito bem discutido, assim como o socialismo.

    Diego e Sil, tá aí algo complexo, pois historicamente fez parte da bandeira de luta de vários movimentos sociais, visto que as mulheres, os pobres e os idosos não tinham esse direito. Eu, particularmente, sou a favor de que o voto não seja obrigatório, mas para isso, precisamos presenciar uma mudança na cultura da sociedade frente ao seu interesse quanto a política, o que é demasiadamente difícil, mas não impossível.

    Lu, está aí uma discussão que me interessa: A efetivação dos direitos. Tema que discuti muito na faculdade e que entendi que deve ser continuo. Um bom exemplo é o que ocorre na França, quando o então presidente revogou alguns direitos trabalhistas. Aqui não é diferente, o que foi conquistado com tanta luta e até sangue, ainda precisa que seja enfrentado diariamente para se ter.
    Sabe, são nesses momentos que mais me envergonho de ser humana, essa nossa incapacidade de respeitar o outro, apenas por ser outro, cadê a alteridade?
    Concordo, na teoria é menos complicado, mas ainda assim é complexo. Tudo culpa nossa...

    Maria, e não é que também fico assim: rindo e chorando.

    Cris, falta muito, mas é complicado desconstruir algo é historicamente construida e reproduzida.

    Suzi, podemos ser utópicos. Acredito também, mas não nesse tempo.

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