Atitude do Pensar

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Cultura elitizada

Iniciei os primeiros rascunhos desta postagem no final do mês passado, mas a correria cotidiana tem me aprisionado e, portanto, falta-me tempo para dar o devido valor ao assunto. No entanto, ao ler o artigo Cultura de crises ou crise de cultura? do Doutorando Rafael, acabei me rendendo a esta velha discussão que permeia minhas reflexões: Cultura x Acesso.

Muitos teóricos defendem que a cultura e a educação são os pilares da democracia, igualdade, cidadania e emancipação. Contudo, temos alguns paradigmas como Cuba, que nos revela que há uma necessidade de estender estes à outros itens de direito, como o acesso a bens e serviços de qualidade, dentro do âmbito da saúde, propriedade privada, alimentação e afins.

Porém, como este assunto é amplo minha intenção aqui não é trazer conclusões, mas sim, reflexões. Nesse sentido, não irei discorrer uma comparação mais intríseca - não nesse momento. Entretanto, dentro desse universo, várias críticas perspassam minha mente, tais como o que é acesso à cultura - que em si já é tema para grandes discussões.

Outro ponto sempre presente em minhas discussões acerca da cultura, situa-se em qual é a participação da população na criação das políticas públicas culturais e qual a porcentagem que o governo deve reservar para a cultura.

Um bom exemplo da problemática existente nesse ponto é o que tem ocorrido atualmente em Belo Horizonte: Chico Buarque veio para lançar seu novo CD - o que deveria ter me alegrado sublimamente, contudo, sua vinda representou apenas uma cultura popular elitizada, uma vez que o ingresso custa R$290,00. Sendo assim, somente a elite econômica participará. Por outro lado, neste mesmo momento, recebemos a informação de que o governo mineiro diminuiu 18% da verba para a cultura. Restando-me recordar-me das produções intelectuais brasileiras, nascidas de uma elite que possui educação e cultura de qualidade, uma elite que tem acesso ao que se autodenomina música popular brasileira.

Nisso, surgiram algumas perguntas: Que elite é essa? Que música popular é essa? São respostas que não possuo, mas me encaminham em rumo a outras reflexões. Como por exemplo, na defesa de alguns pela popularização da cultura - o que temos observado em campanhas do Estado, onde este disponibiliza o serviço por preço mais acessível. O que acredito ser válido, porém, é apenas um início, um paliativo, pois o preço mais acessível contribui principalmente para os que já consomem cultura, ou seja, estes, passam a consumir mais, e os que não consomem, não se achegam a ela.

Mas afinal, é importante lembrar que acesso está além da disponibilização da cultura. Está nos mecanismos que nos permite chegar até ela. Dentro disso, me questiono acerca do que nos impulssiona a participação. Outro item que encabeça essa discussão, encontra-se em o que faremos com essa disponibilização, com esse conhecimento da cultura. Em suma, o que ela produzirá em nós e por meio de nós.

Em seu artigo, Rafael defende a necessidade de uma sociedade de cultura que se contraponha à sociedade de consumo, o que sou a favor. Já Stuart Hall defende a necessidade da utilização dos mecanismos já existentes, como a cultura popular (futebol, carnaval, maracatu e afins) para a difusão de novas discussões. E o principal, como um canal de emancipação e cidania. O que é de um valor imensurável.

Sendo assim, qual será o primeiro passo?

Desconstruir a cultura elitizada?

Como?

Por meio da participação popular frente a construção das políticas de cultura?

Com certeza.

Mas como o povo se achegará a cultura?

Quem o levará?

O Estado?

Muito pouco provável.

O próprio povo?

Talvez.

E como sugeri no início, que a discussão permaneça.


[perdoem-me pelo sumiço, espero que ano que vem as coisas se regularizem]

5 comentários:

  1. o caso é bem complexo.
    veja o caso dos editais do minc, os artistas consagrados, que tem gravadora e publico são contemplados com verbas extraodinarias e ainda cobram ingressos carissimos para nós pobres mortais...

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  2. Querida amiga Keila, realmente é um problema de difícil solução. A distancia que separa o artista popular consagrado do povo é muito grande. Acho que tão cedo a situação não muda, apesar de muita gente lutar para diminuir tal distancia.
    Um abração. Tenhas uma linda semana.

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  3. salve, keila.

    vivemos numa civilização de divisões afetivas,
    econômicas, de saberes, e tantas outras. nesse contexto, é o diabo pra si e deus pra ninguém.

    dê notícias quando estiver aqui. vamos nos ver.

    lancei o romance aí, mas fui um divulgador
    incompetente, por isso não ficou sabendo.
    seria ótimo que tivesse ido.

    b
    delamancha

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  4. Acesso a cultura todos nós temos, a questão está no que cada um de nós considera como sendo "cultura".
    Eu por exemplo, sempre li e leio muito, a maioria eram livros de biblioteca. Mas ouvi muitas pessoas dizendo que o livro não está acessível. Ok. Cada um tem a sua opinião formada.
    Ir ao teatro, ao cinema. Enfim, o que é cultura?
    E quando ao preço que se paga, isso se deve ao fato de que os artistas de hoje querem o que os artistas de ontem não buscavam: lucro. Ganha-se muito (alguns) - mas a arte já não é mais a mesma. Está aí o senhor Chico Buarque para provar tal argumento. Eu pagaria esse valor para ir ao show do Chico? Não. E nem é pelo valor, mas eu prefiro ouví-lo em casa com o controle remoto em mãos. Ele já não me agrada tanto quanto antes.
    Enfim, também é cultura ligar a televisão e assistir tudo que lá se exibe. E aí temos o controle remoto e as escolhas. Mas os intelectuais criticam a cultura popular. Lembrando que Shakespeare era um artista popular = cultura de massa. Sua condição só mudou depois que a Rainha da Inglaterra foi assistir suas peças.
    Enfim, cultura é uma palavra curiosa, que depende de cada um e dos valores que agregamos no final de tudo... rs

    bacio

    Ps. estava com saudades de suas linhas.

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  5. Cultura é relativa e eu nem gosto do Chico hehehe

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