Risos, lágrimas, odores, sensações, dores, amores, sons, perdas, desamores, imagens. Tudo dentro da mesma caixa: A minha caixa de pandora - memória. Pode parecer loucura, mas são raras as ocasiões em que desejo o esquecimento, o não sentir. Nesse sentido, pela estrada de tijolos amarelos, sigo com minha caixa, que as vezes chamo de baú, gaveta... Lá, encontram-se fotografias do que passou, mas que de certa forma está alojado em minha pele, em meus olhos, em minha alma, e em tudo que eu represento. Bem, venho refletido sobre isso há algum tempo; a memória enquanto pertencimento e identidade. Em 2004, ao assistir Eternal Sunshine of the Spotless Mind - um dos meus filmes prediletos -, percebi mais claramente esse desejo - ou quem sabe necessidade -, de fulga. E sinceramente, não acredito que a intenção seja o esquecimento, mas o distanciamento da dor. No entanto, não sei se ao deletar alguém, ou uma determinada situação essa dor venha ser amenizada, pois as memórias possuem o poder de desenhar nossos contornos e somos uma tela frente a esse espetáculo. Outro filme que fala sobre esse assunto, mas como fato verídito é Iris, que narra os últimos momentos da relação entre a escritora Iris Murdoch e seu marido. Nesse caso, a escritora começa a sentir as primeiras manifestações de alzheimer. Ver seu sofrimento com a perda de memória, causou-me uma dor que é constantemente revivida desde 2001, além do nascimento de um medo dentro de mim: O de me perder. Eu poderia relatar outros filmes que abordam esse tema, mas atualmente meus olhos e sentidos estão pairando sobre o livro Leite Derramado de Chico Buarque, estou a 10 linhas de finalizá-lo, e durante toda a leitura encontro-me novamente refletindo sobre a memória. O livro é um apanhado histórico delicioso sobre o Brasil dos últimos dois séculos, e narra a história de uma família que viveu o auge econômico, mas enfrenta uma decadência social e econômica. Quem relata essa história, é o personagem principal, um homem idoso (por volta de 100 anos) que está no leito de um hospital. Em suas narativas percebemos falhas de lembranças, confusões, criando dúvidas nos fatos narrados. Dentro disso, também percebe-se a fulga de algumas verdades que o personagem não quer enfrentar. E repetidamente, a memória falando-me sobre sua importância e força, na tela chamada humanidade. Enfim, em meu cotidiano já enfrento as lacunas que nascem do tempo e da falta de vitaminas. Porém, não desejo que apaguem minhas lembranças dolorosas e a transformem em uma mente nova e tranquila. Prefiro antes, observar, absorver e reviver as fotografias que estão dentro da minha caixa de pandora. Mesmo que as ignore vez ou outra, ainda as escolho sempre presente, vivas, lúcidas, revelando-me quem eu sou, onde estou e para aonde vou.
[que as estrelas, a lua, o sol e as estações não passem, mas fiquem gravadas em tudo o que sou]
Sua caixa de Pandora, Keila, é diferente da caixa da Pandora da Mitologia Grega, pois na sua existem coisas boas, embora notei mais dores que prazeres, mas a vida é isso mesmo, não?
ResponderExcluirE, falando em memória, me preocupo muito, a minha não anda muito legal. Meu pai padeceu de Alzheimer...
Ótimo texto, Keila!
Mal de Alzheimer, eu quis dizer. Sorry
ResponderExcluirquerida amiga,
ResponderExcluircada um de nós é um tecido limpo onde vamos escrevendo todas as linhas que nos constroem. assim, com a sintaxe da vida e a gramática dos momentos. lotman dizia que o homem é toda a memória não genética; depois de perdida, o que sobra, pergunto eu?
o teu texto soberbo convoca-me "memento", um dos filmes (do chris nolan) mais incríveis a que pude assistir.
beijinho e mil inquietações-serenas!
eu não gostaria de apagar nada, recordar, lembrar, faz parte da vida.
ResponderExcluiré necessário para crescer, e principalmente tomar decisões...
Um pouco mais de dor, não?
ResponderExcluirComo sempre te leio e fico meditando!
ResponderExcluirDesta vez aconteceu o mesmo, mas senti que tudo o que vivi, gostaria de o poder lembrar até os ultimos dias da vida. Mas que o fim da vida foce no dia de "São Nunca à Tarde"!
Um beijão
Memórias, é o que queremos levar até os fins dos nossos dias,memória lúcida... minha avó dizia, que nós somos responsáveis por todos os momentos vividos, sejam bons ou maus...mas que precisamos guardar em nossa caixinha as que nos fizeram felizes e as ruins deverão ser mencionados e que serviram para construção do nosso crescimento, eles servem de alicerces...minha mãe morreu muito jovem, com muitas idéias e planos, ela criou uma caixinha de memórias que eu abracei quando meu pai me deu de presente aos 10 anos e mantenho até hoje... um dia talvez minha memória poderá falhar e o que está registrado, guardado, será lembrado por mim ou pela minha geração.. sempre revejo o andamento dos fatos... e sempre re-avalio o que passou mesmo em meio a dores e sofrimentos...sempre aprendo um pouco mais, faço correções... são momentos que passou, mas são momentos da nossa história, do nosso eu...
ResponderExcluiré importante refletir esse momentos, muito boa sua visão.. te desejo um lindo dia de sexta feira, beijos calorosos. Giovanna
Eu apago coisas todos os dias. Gosto de me permitir silêncios de tempos em tempos e de repente, em alguns dias as coisas voltam.
ResponderExcluirNão sei, tenho lembranças também de dias futuros. Mas isso é parte da loucura.
Estava há pouco a ler novamente o meu diário (não gosto de chamá-lo assim porque não é uma coisa diária) mas enfim, e vi tudo de novo, de perto, os dias, os pretéritos, os sons e agora só quero apagar. Mas gosto dele, do primeiro já não gosto mais. kkkkkkkkkkkkkkkk E desse eu sei que vou gostar apenas por dois dias ou mais (se tanto)...
bacio
Pronto. Olha os comentários em fase de surto. Eu heim. Sorte que tinha copiado o comentário. De qualquer força esqueci de dizer que tenho o livro do Chico Buarque aqui, mas ainda não o li. Não encontrei o momento certo para ele. Ando lendo poesia. Dylan me seduziu nos últimos dias (de novo) rs
ResponderExcluirbacio
Temos tantas coisinhas dentro dessas caixas...Prefiro revirar e deixar as boas... beijos, tudo de bom,chica
ResponderExcluirNossas lembranças... que vão grudando em nós como peças de quebra cabeça... boas dicas, vou ler o livro.
ResponderExcluirBjs!
Olá, Keila,
ResponderExcluirSeu texto recupera um tema que abordei também no Pedra do Sertão, quando resgato a situação do poeta José Agüeiros. Os poetas guardam a memória mítica de um povo, por isso nos comove a ausência/apagamento da memória. Abração! Araceli
Keila, querida. Que coisa linda. *--*
ResponderExcluirO texto, eu quis dizer, não a sua dor.
ResponderExcluirBjs.
Oi Keila querida
ResponderExcluirNossa que texto maravilhoso.
Adorei!!!
Também não acho que tentar tirar da memória certos acontecimentos que a gente não tenha gostado seja bom, por isso se eu puder escolher, quero todas as minhas memórias comigo sempre, sejam elas quais forem...
Beijos
Ani
Cada um faz uma história de vida,,,beijo Lisette.
ResponderExcluirDizem que recordar é viver...Eu as vezes queria me distanciar das memórias que as vezes parecem estar mis vivas do que nunca dentro de mim,mas sei uqe só o tempo fará isso por mim.
ResponderExcluirEi li esse livro do Chico e sinceramente não gostei muito não...
Beijosss
Belo post.
ResponderExcluirTambém gosto muito do filme "O brilho eterno de uma mente sem memória". Em alguns momentos também desejei ter a capacidade de esquecer memórias dolorosas. Mas assim como vc, creio hoje que não gostaria de me livrar da minha caixa de pandora. Afinal de contas, se não tivessemos memória das experiências por quais passamos não seriamos nós mesmos. (Pelo menos não o mesmo eu de hoje)
Abraços, boa semana.
olaaaaaaaaa
ResponderExcluirEstá havendo uma enquete em nosso blog, uma espécie de gincana entre os autores, passa por lá, vote em algum de nós; nossos livros estão no link http://drisph.blogspot.com/p/resenhas-divinas.html no próprio blog, na janela "obras", vá até lá nos conhecer...
Meu msn - adrianavargas.ocadv@hotmail.com
Um beijo!
Adriana
Gostei do post!
ResponderExcluirhttp://blogdadanimatheus.blogspot.com/
amei o post!
ResponderExcluirestou aproveitando para te convidar a conhecer meu novo blog!
te espero lá
beijokas perdidas
http://senhoritaperdida.blogspot.com/
Oi Keila! Apesar de as vezes querer fazer uma faxina na caixa, há lembranças que insistem em ficar... Mas como diz a letra da música "...o importante é que emoções eu vivi" Bjusss
ResponderExcluira vantade, ao lê-la, é de abrir a caixa de pandora, deixá-la arder os mundos, em mim.
ResponderExcluirb
de la mancha
Eu amo e odeio esse filme, rs, mas adoro Leite Derramado :)
ResponderExcluirLinda imagem!
Roderick, talvez minha caixa pareça ser mais tristeza e dor, mas isso pode ser apenas o reflexo da minha melancolia.
ResponderExcluirTambém tenho receio em relação ao mal de alzheimer, no entanto, não possuo nenhum histórico familiar.
Se cuida, pois pelo que tenho percebido chega de repente.
Jorge, boa referência e indagação, pensar acerca do homem enquanto memória não genética no convida a questionar e refletir a importãncia destas memórias reveladas e intrísecas.
Filme anotado!
Maggie, vivemos numa indústria de negação/fuga: das memórias, dores e afins. É bom encontrar os que ainda enfrentam estes e são capazes de apreendê-los e superá-los, transformando-os em tijolos para a estrada da vida.
Cleber, é apenas essa melancolia que permeia meus contornos.
Oi, José, obrigada pela companhia.
Giovanna, que linda e triste a história da sua mãe. Gostei tanto da ideia da caixinha que me pego com vontade de colocar para frente.
Lunna, meus amigos falam que troco de estações e vagões sempre, nesse sentido, as memórias também precisam de silêncio, mas o meu medo é esquecer-me, portanto, busco continuamente apreender-me por meio delas.
O livro foi um presente do ex, ficou lá na estante durante exatos 12 meses, mas de repente ouvi meu nome, era ele invocando-me.
Jamais li nada do Dylan, lembro-me apenas que é citado no filme Mentes perigosas, quando assisti este novamente, fiquei curiosa, agora então. Vai pra lista!
Chica, esta é a sua forma, mas eu prefiro tê-las sempre lucidamente visíveis e entendíveis, pois não tornam-se fantasmas que tentam me assustar. rsrs
Dani, é isso mesmo, elas possuem essa ideia de quebra-cabeça.
Araceli, a arte possui é força e identidade.
Talvez por isso aprecie todas as expressões desta.
Miri, obrigada.rsrs
Ani, esse é o desejo por aqui.
Obrigada!
Lisette, quando leio suas colocações e informações sobre o trânsito percebo esse resgate da memória, o velar, o zelar.
Oi, Flor, também possuo esse desejo - as vezes.
Foi meu primeiro contato com textos do Chico, além de suas músicas, mas sou tão apaixonada por ele que o livro só suscitou mais ainda minha curiosidade. Pena você não ter gostado.
Thel, gostei tanto do filme e da atuação do Jim Carrey que marcou-me pelo todo.
Obrigada pela dica, Adriana.
Oi, Dani, obrigada!
Adorei lá, Fabby!
Ei, Zélia, música simples e que fala de uma grande verdade. Sentir é viver!
Ah, Luis, grata!
Andressa, me too!!!!!!rsrs
Nossa.. Bem profundo e com toques que me cativaram e me fizeram pensar entusiasticamente!!!
ResponderExcluirRealmente, o passado faz o nosso futuro. O que somos hj.. Nem é preciso questionar isso.
Admiro a sua força em reviver certas fases de outrora... Mesmo que sejam negativas.
Felizmente, pelo menos para minha pessoa, prefiro não lembrar dessa parte. Bloqueio-o da minha mente as passagens que me fizeram chorar ou sofrer muito em determinada época. Não consigo... Sei que elas estão lá, porém prefiro mantê-las guardadas. Bem fechadas!
Claro que, com todas as nossas experiências, aprendemos. Isso é fato. Provavelmente, em um futuro, saberei como lidar com a situação de forma mais clara.
Admiro a sua postura!!!
Lindo texto, de verdade!!!
Beijos