Atitude do Pensar

Atitude do Pensar

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Vende-se Máscaras e Sorrisos de plástico

Há muito que desejo rascunhar algumas palavras sobre esse tema, mas o receio de não conseguir ser clara em minha intenção, impediu-me até esse momento.
No entanto, tenho estado tão inquieta quanto a isso, que faz-se necessário vomitar.
O fato é que, aqueles que me são próximos, de uma proximidade íntima, sabem muito bem o que menos me agrada na humanidade - hipocrisia.
Inclusive, sobre essse tema eu já falei aqui: A maior doença humana
Mas no universo denominado "Keila " há outras coisas que me incomodam quase tanto quanto a hipocrisia, posso incluir aqui julgamentos pré concebidos, desrespeito as diferenças, falta de gentileza, máscaras e sorrisos de plástico (se bem que tudo isso diz respeito a mesma, não é?).
Para dar continuidade, preciso contar-lhes que sou cristã, mas sou cristã sem igreja. Considerada herege para os que a frequentam e puritana para alguns do meu convívio.

Não discorrerei aqui o motivo de ser cristã, porém adianto que, muito me envergonho da história da igreja - Cruzadas, Constantino, Inquisição e afins -, assim como a história que tem sido construida na contemporaneidade.
Como disse, sou cristã, mas sublinho que, anterior a minha escolha de religião, sou a Keila. Um indivíduo. Uma filha. Uma futura mãe. Uma amiga. Uma estudante. Um ser.
E enquanto cristã, entendo que Cristo é centro de tudo em minha vida, mas de forma nenhuma anula o meu eu. Antes o contrário, confirma-o.
Para que fique claro, a discussão aqui não é religião, mas o ser.
Afinal, podemos ser hipocrita em qualquer lugar. Assim como utilizar máscaras e sorrisos de plástico.

Utilizo-me apenas para ilustração.

Ao longo desses quase 30 anos (há 3 passos, ou melhor, 3 meses para que se completem), tenho observado que, família, escola, faculdade, religião, mídia, ciber espaço, trabalho, sociedade e afins, procuram nos aprisionar.
Ok, não vamos generalizar. Mas convenhamos, levante a mão quem jamais se sentiu preso...ou com a simples sensação de não poder ser.
Me falem mais, quais foram os locais ou os momentos em que tiveram essas sensações?
Posso listar?

Bem, dentro desse universo de locais que vendem máscaras e sorrisos de plástico, observo que, enquanto eles deveriam nos permitir e incentivar-nos a ser, são exatamente aqueles que esperam que você nunca mais seja você mesmo.

Então, insistem para que você invente um novo eu. Um eu, que todos admirem e ninguém conheça.

Pois quando o conhecerem, verão que não é perfeito e o espelho de nossa imperfeição, refletirá sobre ele, e este constatará que também não é perfeito.
Contudo, as vezes, pelo terror do abandono, acabamos acreditando e aceitando essa proposta.
Nesse sentido, compramos essas máscaras e sorrisos de plástico.

E apresentamos uma máscara para cada situação, um sorriso para cada pessoa.

Isso me lembra do filme "Zelig" de Wood Allen, onde o personagem não possue uma identidade. Dessa forma, assume várias personalidades, uma para cada pessoa que encontra.

Nesse caso, o personagem é uma pessoa sem personalidade própria. Mas há momentos em que até aqueles que possuem personalidade formada faz uso de máscaras.

Portanto, todos estamos sujeitos a isso. Mas nem sempre conscientes.

Não pretendo encerrar com uma conclusão; um desfecho.

Mas de cá, penso nas máscaras que vez ou outra utilizo, nas máscaras já utilizadas e na motivação ao usá-las.

Penso também se há aqueles que não fazem uso delas. Penso, com certa angústia, na mentira que muitas vezes vivemos, mentiras que foram construidas por lugares que levantam bandeiras ideológicas da verdade. Do conhecimento. Da construção. Da transformação.

Enfim, locais que simplesmente vendem máscaras e sorrisos de plástico.

"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."

16 comentários:

  1. para ser eu, tive que me afastar de tudo.
    hoje eu sei quem sou.
    e sei que ficar longe da familia te dá a liberdade de viver.

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  2. Bom mesmo é estar preso de amor - este que é o único que (nos) liberta.

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  3. todo a máscara se ilude na quase-certeza-definitiva do rosto que a escolheu. o mundo enganou-a e ela vingou-se. hoje, desavindos, máscara e rosto, não respiram uma sem a outra. enquanto isso, incrédulo, deus faz contas à vida e pensa: enganei-me; afinal o problema não era a maçã, mas todo o pomar.
    um abraço, keila!
    obrigado pela visita ao viagens!
    p.s. imagem soberba!

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  4. Uau!!! Menina vc indagou sobre algo que muito me atormenta e ao mesmo tempo, vivo debochando e me pondo a provocação. Afinal, mesmo com todos entendimentos do mundo,impossível não exercer os papéis sociais que temos que assumir em várias esferas da vida, que muitas vezes odiamos, mas que fazem parte dela...E isso é uma loucura desgraçada, puxa vida essa conversa é pra uma noite inteira de bar. Vou repetir algumas palavras de um velhinho de 93 anos Padre de ação católica que conheci no Rio de Janeiro, um privilégio porque é um ser humano fantástico, que foi exilado, excluído da igreja e com toda escoliose ta luta, nossa luta hoje é ser resistência, não perder a identidade e procurar quem está na luta pra somar forças, porque sozinhos enlouquecemos. Enfim é mais papo pra noite. Tchau e Axé!!!

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  5. qdo vc vier à sampa, te levo em um sarau aki, ok?

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  6. você escreve com uma sabedoria ímpar...meus parabéns!

    Admiro seus textos!

    beijos!

    Bia

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  7. Para ser quem sou hoje foi um caminho longo e posso lhe assegurar, aprendi muito em cada passo dado e sou feliz por ter chegado aqui, mas confesso, não agradei muita gente. kkkkkkkkkkkkk E dou de ombros pra isso.
    bacio

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  8. Boa noite, querida amiga Keila.

    Acho que as máscaras não são descartáveis. Elas fazem parte das pessoas, por uma questão de sobrevivência.

    Quando penso em "civilização", lembro-me de uma frase da minha avó:
    "A pessoa dança, conforme a música".

    Quando ela dizia isso, era se referindo ao jogo de cintura... À diplomacia.

    Muda o ritmo da dança, mas a pessoa continua a mesma, e segue com as próprias pernas.

    Adorei esse tema.

    Um grande abraço.
    Tenha um lindo fim de semana.

    (Muito obrigada pela atenção e carinho).

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  9. Keila,

    Grande verdade minha flor.

    Estava lendo os comentários acima, e faço das palavras da querida Amapola, as minhas!

    Um beijooooo!

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  10. Keila ,

    mentir não agrada e a maioria não tem espinha dorsal para ouvir a verdade .
    Que fazer ? Silêncio . Só que até esse incomoda , e por vezes , mais ainda .
    Quanto ao uso das máscaras e sobretudo dos sorrisos de circunstância quem já não teve que recorrer ao seu uso ?
    Por tudo isto é que há um cansaço quase insuportável apoderar - se de alguns seres .

    Um beijo

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  11. Todas as coisas q vc citou, Keila, realmente, nos aprisionam. Felizmente, hoje, estou livre de todas elas. Não sei até quando, mas estou free!

    Sorriso de plástico... quem nunca foi obrigado a sorrir sem ter vontade?

    Ótimo post!
    Abraços

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  12. Não suporto falsidade, mas temos que conviver com ela já que o mundo esta cercado por tal!
    passei para te desejar um ótimo domingo florzinha!
    beijinhos colloridos

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  13. Suas palavras são fortes e verdadeiras, mas vivemos em uma sociedade em que as pessoas preferem as mácaras de sorrisos. E, por vezes, é mais fácil vesti-las até mesmo em família.

    Mas lutar para ser você mesma, não tem preço!

    Beijos

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  14. Bom dia, querida amiga Keila.

    Eu estava refletindo sobre uma postagem sua, cujo texto é a convivência no trabalho.

    Uma moça jovem, inteligente, e linda como você, paga um preço maior. A competição é desleal, e lidamos a vida inteira, com gente insegura, invejosa, e sem escrúpulos.

    Isso acontece em qualquer ambiente, e "essas pessoas" se transformam nas pedras do nosso caminho.

    Desejo-lhe paz, força, e sucesso na sua jornada.
    Felicidades!!

    Que Deus a abençoe, livrando-a de todos os males.

    Um abraço apertado.

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  15. Muito interessante o blog !
    Deixo o meu aqui caso queira dar uma olhada, seguir...;

    www.bolgdoano.blogspot.com

    Muito Obrigada, desde já !

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  16. Queridos, muito obrigada pelo recado de cada um.
    De todas as postagens aqui, essa foi a mais necessária; aquela que habitava no âmago do meu ser.

    Long Haired, me afstei muito cedo de minha família (aos 14 anos pela primeira vez). Isso, foi uma necessidade de me permitir ser, o que não era possível no contexto familiar. Portanto, desde bem pequena me sentia obrigada a usar máscaras; naquele momento da perfeição - coisa esperada pelo meu pai.

    Andressa, um amigo intelectual, certa me disse que a maior liberdade é escolher amar. Acredito que deve ser nesse sentido que você colocou, uma vez que acreditamos que este - o amor - liberta. Ou pelo ao menos deveria...

    Jorge, é um prazer ter você aqui. E muito interessante o que colocou. Afinal, o que percebemos é que máscaras e humanos precisam um do outro para existir, e quem sabe viver.
    Olha, quanto a ideia do pomar, magnifica!!! Mas de cá penso, o problema não era Eva, mas o ser humano em geral, isto é, o pomar.

    Nicolau, essa discussão também me é muito presente. Enquanto assistente social sei que terei que muitas vezes articular os interesses do capital e da sociedade. E enquanto indivíduo também tenho minhas posições que em muitos momentos não poderam ser coniventes com o que realmente acredito. Enfim, é uma luta constante. Em alguns momentos venceremos e outros não. No entanto, se somado as conquistas poderão chegar de forma mais coerente e presente.
    Como citado por você, conversa para uma noite.
    Tchau!

    Alessandra, sou igual a uma criança. Quando prometido anseio em ser cumprido...rsrs
    Sou de São Paulo e estive aí visitando a galera em janeiro, mas devo voltar no decorrer do ano. Te aviso e obrigada pelo convite.
    Bj

    Bia, obrigada. Bem, segundo alguns filósofos a experiência nos torna sábio, e essa é o melhor conhecimento.
    Mas ainda desejo ser menos redundante e prolixa, assim como você. Falar diretamente e assim tocar.
    Bj

    Lu, tenho pensaod muito sobre isso: Esse longo caminho que percorremos e o quanto pode desagradar muitas pessoas. Tenho caminhando uma longa estrada, e em vários momentos a solidão se faz presente. Exatamente pela falta de compreensão. Enfim, é o peso de se buscar a leveza de ser.
    Abraços apertados

    Queridas, Amapola e Sil. Reconheço a necessidade de nos guardar como forma de sobreviver, mas muitas vezes acabamos nos encolhendo tanto ao nos proteger que não nos revelemos. Ou seja, as pessoas nos enxergam superficialmente, pois estamos sendo superficiais. Portanto, indago o preço disso. Até onde podemos nos proteger sem nos perder.
    Abraços fortes nas duas

    Maria, o silêncio é necessário quando ainda não sabemos falar daquilo que está em nosso coração, e também é necessário quando usamos todas as palavras e de nada adiantaram.
    Concordo, quando há o silêncio nessas situações, incomoda demasiadamente.
    Um beijo

    Caríssimo, Roderick. Em vários momentos, tenho essa necessidae de me afastar de tudo que me aprisiona, mas percebi que há situações em que sou minha própria inimiga e, portanto, entendi que devo aprender a lidar com tudo isso. É claro, que continuarei me afastando quando necessário, mas em geral, preciso superá-los.
    Abraços

    Florzinha (Fabby), temos mesmo, apenas não devemos nos sujeitar a ela e muito menos fazer parte.
    Bjus, querida

    25-40, creio que é no seio da família que aprendemos a utilizar as primeiras máscaras e os primeiros sorrisos de plásticos. Portanto, lá deveremos aprender também a syperá-las.
    Obrigada pela visita e comentário

    Amapola, penso que o problema não está em nossas fragilidades: sou medrosa, insegura e com tantos outros defeitos. Mas a diferença está em como lido com minhas vulverabilidades.
    Obrigada pelo carinho constante

    Poxa, Amanda, é uma honra. Fui lá no seu canto e gostei muito.

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