Se possível gostaria de fugir do meu corpo e desse tempo.
Ascender a existência...
E livrar-me das memórias.
Lembrando-me apenas das borboletas que outrora foram lagartas.
Estou cansada de Nietsche, Wood Allen e também da Sertralina.
O sonho fugaz já não me atrai como antes.
Pois até nele a alma geme, mas não chora.
E não sei se vou ao norte, ao sul, ou se não vou.
Sinto-me como o pequeno principe que possui apenas uma rosa (no meu caso um gato) e anseia por ir além.
No entanto, paro e não dou nem ao menos um passo.
"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha paisagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Relei e digo: "fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu."
[Fernando Pessoa]
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