Acerca de Melancholia calarei-me, pois até a presente data não foi possível degustá-lo, mas quanto a nova produção de Almodóvar pretendo rascunhar algumas palavras nas linhas que se seguem.
Almodóvar é conhecido por trabalhar questões delicadas e polêmicas em seus filmes, apresentando constantemente mulheres fortes, personagens emblemáticos e complexos. Além de possuir cores que o representam por meio do vermelho, roxo e verde.
No entanto, dessa vez, o diretor resgata um personagem masculino e o que permeia sua vida. Contudo, de certa forma, acredito que ao entrar no cinema, muitos ainda esperam que em algum momento - mesmo que sutilmente -, se depare com o perfil de mulher retratado pelo diretor. E isso ocorrerá, porém, repleto de outros atrativos.
O filme contém todas as temáticas discutidas ao longo dos filmes já produzidos por Pedro e revela personagens paradoxalmente fortes e frágeis, o que não é nenhum ponto diferencial do que o diretor traz ao longo de sua carreira, como produtor e diretor.
Porém, através de um enredo de tirar o fôlego, Almodóvar aparece mais maduro, e a trama nos envolve em cada segundo. Não há somente um grande personagem, mas seis personagens que contribuem para que a história contada vá criando uma atmosfera que pondere a diversidade humana, bem como o encontro de nossas mazelas e o que surge delas.
La piel que habito, em minha humilde opinião, é a melhor obra do autor assistida por minha pessoa. Narra um conjunto de histórias que se entrelaçam a partir de perdas, omissões e vulnerabilidades.
Almodóvar nos mostra que são nos traumas que encontram-se as maiores mazelas da humanidade. Na fragilidade humana que inicia-se e encerra-se nossa humanidade em toda sua plenitude. Podemos observar reflexões críticas em relação a cirúrgia plástica, as questões de gênero, a identidade, a liberdade e às relações sociais. Ambas visivelmente articuladas.
A trilha sonora merece muita atenção, pois é de uma qualidade sonora excelente, além de nos permitir mergulhar pela cultura européia e latina. O Brasil aparece através de músicas e por meio dos personagens Zeca (Roberto Álamo) e Marília (Marisa Paredes).
E para que eu não descreva mais do que deva ser revelado, encerro-me por aqui, ainda digerindo esta incrível produção cinematográfica.
E para que eu não descreva mais do que deva ser revelado, encerro-me por aqui, ainda digerindo esta incrível produção cinematográfica.